De Basileia a Luanda

Marcelo foi (e bem) à tomada de posse do novo Presidente João Lourenço, tentando acalmar um conflito que pode ter graves consequências

Em vésperas de eleições autárquicas, a notícia que fez manchete em todos os jornais foi o enxovalho da derrota do meu Benfica, completamente à deriva, sem orientação no banco, esmagado por um Basileia de 2.ª (ou 3.ª?) divisão europeia. 

Sendo a derrota para mim uma enorme surpresa, os inimagináveis 5 golos sofridos deveriam fazer refletir os dirigentes, antecipadamente avisados dos riscos do desinvestimento. E logo neste ano, em que apenas duas equipas se apuram para a Champions, indo a terceira a uma financeiramente frustrante Liga Europa. 

Mas isto é apenas futebol – e muito mais coisas se passaram na semana que hoje finda.

Por exemplo, Marcelo (e bem, na minha opinião!) foi a Angola à tomada de posse do novo Presidente João Lourenço, tentando acalmar um conflito que pode ter graves consequências. O caso decorre de um processo na Justiça portuguesa envolvendo o até há dias vice-Presidente angolano, Manuel Vicente. 

Para não quebrar hábitos, Marcelo tomou o seu banho nas águas cálidas de um Atlântico maravilhoso que banha Luanda, estabeleceu pontes com o povo e ouviu o discurso do novo Presidente, em que Portugal não mereceu sequer citação. Segundo o ministro Santos Silva, não houve omissão. Será que o nosso ministro ainda julga ser Angola uma colónia? Falemos sério: houve omissão e ostensiva, na frente de um Marcelo a tentar a conciliação. Veremos o que vai acontecer, mas não auguro nada de bom para as empresas portuguesas e a sua atividade naquele país.

Sobre a economia, as notícias oficiais são auspiciosas. Um crescimento de quase 3% e um défice de 1,9%. Não faltará muito para vermos cartazes nas ruas a vangloriar o Governo pela saída do ‘lixo’ por parte da Standard & Poor’s, ou a incensar Centeno como predestinado candidato a cargo europeu. 

Mas por que será que persistem vozes reputadas internacionalmente a duvidar desta ‘fantástica recuperação’, argumentando que, se em época de prosperidade não cortamos significativamente na dívida, teremos problemas no futuro? Será apenas pessimismo, em consequência das anulações de voos da Ryanair, trazendo menos turistas para Portugal? Ou será gente que percebe de economia e sabe que distribuir riqueza com base em endividamento só pode dar mau resultado?

Outro tema importante é o afiar de facas no PSD para o dia seguinte às autárquicas. 

Creio que Passos Coelho convocará de imediato um Congresso para clarificar a liderança e evitar o apodrecimento do partido. Além de obrigar os críticos a saltar à liça, sobretudo Rui Rio, atual bandeira da contestação (mas com o anátema de Costa o ter ‘escolhido’ ex-ante para líder de oposição). 

Veremos como Passos Coelho, persistente e teimoso como é, se sairá desta confrontação. Ou se Paulo Rangel, combativo como poucos – e que não tem atacado Passos Coelho, apesar de ter sido derrotado por ele nas últimas eleições -, não será a grande surpresa do Congresso. Com uma oratória bélica que, pelo contraste com o estilo soft do atual líder, poderá ter inesperada adesão num partido em convulsão há meses.

P.S. – Uma palavra final sobre escolhas erradas para certos lugares. Como em tudo na vida, apostar em líderes ou talentos tem sempre retorno. Os próximos dias irão confirmar como escolhas erradas têm óbvias consequências. Tal como no Benfica!