Preços altos do lítio são para manter

Aumento da procura global do lítio para utilização nas baterias dos automóveis elétricos multiplica projetos. Grandes players  mundiais movimentam-se para controlar mercado e garantir a continuação dos preços altos de uma commoditie  que mais tem valorizado nos últimos anos.

As reservas de lítio são cada vez mais um atrativo para os investidores. Mas estes não se cingem a Portugal e um pouco por todo o mundo há projetos para a exploração deste mineral.

Nos últimos dois anos houve uma subida acentuada dos preços do lítio no mercado internacional, e a perspetiva é que a breve prazo haja um exponencial aumento de automóveis elétricos, o que faz prever uma elevada procura de lítio a nível mundial, 

Grande procura com preços altos é um aliciante para o grandes players internacionais que se têm estado a movimentar. Os preços do carbonato de lítio, a base química produzida pela indústria, mais do que duplicou nos cinco anos que precederam 2016. O valor deste material aumentou 5% entre junho e julho, para uma média de 14.250 dólares por tonelada, 

Este ano já subiu cerca de 26%, tornando-se uma das commodities com melhor desempenho.

A Austrália é a maior produtor de lítio, embora Chile e Argentina representem 67% das reservas globais. A produção de lítio  é dominada por quatro grandes players: SQM, FMC  Albemarle e Tianqi Lithium. 

Mas uma série de pequenas empresas estão a tentar conseguir um lugar nesta corrida. «Quem conseguir posicionar-se vai obter margens fortes», diz um especialista, citado pelo Financial Times.

A BlackRock passou a ser a grande financiadora das start-ups de lítio. O maior gestor de ativos do mundo aposta no boom dos veículos elétricos. O BlackRock World Mining Trust, que tem mais de 800 milhões de euros em ativos, tornou-se o maior acionista de uma série de pequenas empresas mineiras com o objetivo de produzir lítio.

Crescente procura 

O movimento da BlackRock é paralelo ao crescente interesse dos investidores no lítio, numa altura em que os governos e reguladores impulsionam a transição para carros elétricos e os custos da bateria continuam a diminuir.

A crescente procura por estes veículos elétricos fez com que os preços do carbonato de lítio, a base química produzida pela indústria, tenham subido cerca de 26% este ano, tornando-se uma das ‘commodities’ com melhor desempenho.

 De acordo com o Deutsche Bank, o lítio e os seus componentes são utilizados pela indústria de cerâmica e vidro, lubrificantes industriais, aplicações médicas, siderurgia de alumínio e as baterias. Os principais mercados de destino para baterias em 2015 foram veículos elétricos (25%), telemóveis e smartphones (19%), computadores portáteis (16%).

A expectativa é que os mercados tradicionais do lítio cresçam em média 3,6% ao ano nos próximos dez anos.

Muitos projetos novos têm dificuldade em começar a produção, e os produtores já estabelecidos vão aumentar a oferta tendo em conta os preços mais altos. 

No entanto, «produção de lítio não é fácil», alerta um outro conhecedor à agência Bloomberg. «É necessário um elevado conhecimento técnico e químico. Haverá certamente mais interrupções sempre que chegam ao mercado empresas que nunca extraíram lítio e que não têm esse conhecimento técnico», acrescenta.

A extração mundial de lítio é feita há várias décadas sobretudo a partir de salmouras (essencialmente, lagos salgados), devido ao menor custo operacional. Mas a procura crescente tem levado ao lançamento de projetos para a extração a partir de minerais de rocha, procurando soluções inovadoras que permitam reduzir os custos de produção.

É neste contexto que as reservas de lítio em Portugal são um atrativo para os investidores e há muitos projetos em curso. Dos 46 requerimentos para a atividade de prospeção e pesquisa na Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), 30 visam o lítio como substância mineral principal. O investimento  é de 3,8 milhões de euros para o período inicial de contrato – dois a três anos – e uma área total de 2.500 quilómetros quadrados.

Esta corrida ao lítio levou o Governo a avançar com uma «alteração da forma como são dadas as concessões», com abertura de concurso público, até porque há vários pedidos para as mesmas áreas de concessão. 

O Executivo quer ainda que  associada à exploração esteja uma indústria para que «as concessões sejam integradas em projetos em que não haja apenas extração do minério, mas que criem valor acrescentado na cadeia industrial que se segue à sua extração».

Para esta cadeia industrial o objetivo seria a implementação de uma unidade experimental minero-metalúrgica com o objetivo de desenvolver conhecimento e testar tecnologias para toda a cadeia de valorização destes recursos.

Litígio e intervenção policial 

A começar pela exploração daquela que seria a primeira mina de lítio em Portugal. Só que com o prazo para pedir o contrato de exploração termina em dezembro e há um litígio em tribunal ainda por dirimir entre a empresa portuguesa LusoRecursos, que detém a licença de prospeção – já atribuída – e a australiana Novo Lítio (antes designada Dakota Minerals), que tem realizado os trabalhos de pesquisa em Sepeda.

Os australianos querem conseguir a licença de exploração, mas a LusoRecursos é a única entidade com quem, reconhece o Ministério da Economia, «o Estado tem um contrato devidamente válido». A Novo Lítio, que antes se chamava Dakota Minerals, opera em parceria com a portuguesa LusoRecursos, através de um acordo para a detenção dos direitos de mineração.

A empresa australiana entende que o contrato que fez com a LusosRecursos obriga esta última a ceder o direito de prospeção. A  LusoRecursos considera que não  e que será esta a avançar com o pedido de exploração. 

A empresa revela também que está à procura de um novo parceiro para concluir os trabalhos e entregar os planos – caracterizações geológicas e cálculo de reservas,  características do método de exploração, processo metalúrgico – bem como os estudos de impacto ambiental, compromissos sociais e pré-viabilidade financeira. «Está tudo encaminhado para entregar o pedido de exploração», diz fonte da LusoRecursos ao SOL.  

A mesma fonte diz também que a máquina para fazer as perfurações a maior profundidade, necessárias para sondar a quantidade e a concentração de lítio que é possível extrair, já conseguiu entrar no campo. 

A aferição da concentração do lítio será feita em laboratório na Alemanha e revelada no final de novembro. A quantidade existente será conhecida mais depressa. 

A dificuldade da entrada da máquina no campo foi um dos aspetos da contenda entre a LusoRecursos e a Novo Lítio, que obrigou a intervenção da GNR, quase diariamente convocada por uma das empresas para identificar alguém da empresa contrária. As várias perguntas e por várias vezes feitas pelo SOL à Novo Lítio estão ainda por responder. 

Anúncio na Suécia

A empresa australiana  anunciou entretanto, no final da semana, que tem planos para começar a perfurar  no  projeto de lítio em  Spodumenberget, na Suécia. A empresa diz que espera apenas pela aprovação dos proprietários dos terrenos, das autoridades e dos parceiros locais para começar a perfurar.  

«Continuando com o nosso objetivo de fornecer lítio da Europa para a Europa, o trabalho exploratório nas nossas concessões portuguesas e suecas continua a avançar, à medida que progredimos também nos nossos procedimentos legais para fazer cumprir os nossos direitos do projeto de lítio de Sepeda», diz a Novo Lítio em comunicado ao mercado.