“A Constituição dá ao monarca uma figura de moderador que não exerceu”

Puigdemont criticou Filipe VI e disse que o executivo catalão não se desvia um milímetro do caminho democrático definido pelos seus cidadãos.

“A Constituição dá ao monarca uma figura de moderador que não exerceu”

“Mantenham a confiança e evitemos confrontos. Sejamos fortes na nossa dignidade e seremos capazes de ser um povo que leva a cabo o sonho a que se propôs”, disse ontem Carles Puigdemont, presidente do governo da Catalunha, numa mensagem moderada aos catalães e a todos os espanhóis – no entanto, muito crítica em relação à intervenção do rei Filipe vi.

“A Constituição dá ao monarca uma figura de moderador que este não exerceu”, acusou Puigdemont, salientando que “o rei procura abrir caminho para as decisões que o governo espanhol quer para aniquilar a autonomia.” Segundo o líder catalão, “o rei perdeu a oportunidade de se dirigir a todos os catalães”.

No discurso de oito minutos, Puigdemont apontou as suas críticas principalmente ao monarca espanhol e à sua comunicação ao país de terça-feira à noite. “Não partilhamos a mensagem do chefe de Estado, que faz suas as políticas de Mariano Rajoy e ignora deliberadamente os catalães que não pensam como eles e que foram vítimas da violência policial”, disse. Para o governante catalão, o rei “dececionou muita gente da Catalunha que o apreciava”.

Referindo-se ao sucesso da greve geral de quarta-feira na Catalunha e a todas as manifestações contra a violência policial no dia do referendo, o presidente da Generalitat afirmou que os catalães mostraram que estão unidos, “que a Catalunha é um só povo”. E aproveitou para lembrar que o mundo está surpreendido com as manifestações pacíficas que se viram por toda a região: “Temos de nos sentir fortes se nos mantivermos unidos e prosseguirmos com um processo pacífico. Granjeamos admiração em todo o mundo por esta atitude.”

“Estamos a seguir um caminho democraticamente marcado pelos cidadãos”, disse Puigdemont, sublinhando que o seu governo mantém a porta aberta ao diálogo e lembrou que é preciso mediação. Ontem, antes do discurso, o vice-presidente da Generalitat, Oriel Junqueras, contactou altos dignitários da Igreja da Catalunha, nomeadamente o arcebispo de Barcelona, Joan Josep Omella, e o abade de Montserrat, Josep Maria Solé, para que sejam mediadores no diálogo com o governo de Madrid.

Apesar do tom moderado da intervenção, Puigdemont não deixou de referir que o seu executivo está preparado para levar a cabo o que foi decidido no referendo de domingo. “Nos próximos dias voltaremos a mostrar a melhor face do nosso país quando tivermos de aplicar o resultado do referendo”, disse. “O meu governo não se desviará nem um milímetro do nosso compromisso.” O parlamento catalão tem agendada para segunda-feira uma reunião do plenário para analisar o resultado do referendo e as suas consequências.

Puigdemont não se esqueceu dos apoios que os catalães receberam de muita gente de toda a Espanha: “Agradeço o esforço de muita gente para acompanhar o povo catalão nas suas reivindicações”.