Polícia polaca invade ONG de defesa dos direitos das mulheres

As rusgas aconteceram um dia depois de uma manifestação anti-aborto

Várias organizações em defesa dos direitos das mulheres na Polónia denunciaram que as autoridades polacas realizaram uma série de rusgas em sedes por todo o país, apreendendo vários documentos e computadores, um dia depois de uma manifestação contra a restritiva lei do aborto no país

As rusgas, em cidades como Varsóvia, Gdansk, Lodz e Zielona Gora, atingiram as duas principais organizações de defesa dos direitos das mulheres, Baba e Centro dos Direitos das Mulheres, que ajudam vítimas de violência doméstica e que participaram no protesto contra o governo.

Ativistas dos direitos das mulheres afirmaram que a apreensão dos materiais pelas autoridades irá dificultar o trabalho das ONG, para além de acusarem o governo de tentar intimidar os ativistas e suas organizações. Por seu lado, os procuradores rejeitaram as acusações justificando que foi uma coincidência as rusgas se terem realizado apenas um dia depois do protesto. Os procuradores disseram aos ativistas que estavam a investigar suspeitas de atividades ilegais entre o anterior Ministério da Justiça e as ONG, nomeadamente de alegado financiamento ilegal.

Alguns ativistas receiam que o partido Lei e Justiça, liderado por Jaroslaw Kaczynki, esteja a seguir os mesmos passos do seu vizinho húngaro Fidesz, liderado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, que tem intimidado e perseguido judicialmente ONG e movimentos sociais em defesa dos Direitos Humanos.

"Isto é um abuso de poder porque, mesmo que houvesse uma suspeita de ilegalidades, uma investigação poderia ser feita de forma que não afetasse o trabalho da organização", disse Marta Lempart, líder da Greve de Mulheres Polacas, que organizou a manifestação, à Associated Press. Opinião partilhada pelo Centro dos Direitos das Mulheres que num comunicado afirmou "temos medo que isto seja apenas um pretexto ou sinal de alerta para não nos envolvermos em atividades que não estejam em linha com o partido do governo". 

A investigadora da Amnistia Internacional na Polónia, Barbora Cernusakova, caraterizou as operações policiais de "muito preocupantes". 

A manifestação em defesa dos direitos das mulheres desta semana teve como objetivo celebrar o primeiro aniversário do Protesto Negro, em que dezenas de milhares de mulheres vestiram-se de negro para travarem a lei que proíbia totalmente o aborto. Apesar do sucesso que a manifestação teve, obrigando o parlamento polaco a inserir algumas excepções ao impedimento do aborto, a lei continua a considerar o aborto ilegal na maioria dos casos.

As ativistas defendem a liberalização da lei, à semelhança do que ocorre noutros países europeus, onde se inclui o caso português.