«Precisamos urgentemente de clientes com ou sem experiência!»

Este cartaz irónico avisa quem passa de que são urgentemente precisos «clientes com ou sem experiência».

Habitualmente, os estabelecimentos comerciais colocam anúncios a pedir colaboradores com experiência e, por vezes, mesmo sem experiência. Mas, neste caso, o desespero do comerciante é tão grande que o que mais importa é ter clientes, para que o negócio possa sobreviver. Daí que este trocadilho seja tão curioso, porque não é a experiência dos clientes que importa, é a visita deles à loja e, acima de tudo, é fundamental que façam compras.

Muitas lojas, sobretudo fora de espaços comerciais fechados, enfrentam graves problemas, porque as marcas que vendem não são as mais conhecidas, porque o horário de funcionamento não é o mais conveniente para quem trabalha, e porque os bens que vendem não são, por vezes, os mais modernos ou apelativos.

As pessoas optam, frequentemente, por concentrar as suas compras em centros comerciais, que visitam ao fim de semana, resguardadas do sol ou da chuva, e onde conseguem encontrar uma grande variedade de produtos em espaço reduzido. É a lei da maximização do tempo (ou, nas palavras de Miguel Torga: «Tempo – definição da angústia»), bem tão precioso nos nossos dias, em que corremos de um lado para o outro, muitas vezes não sabendo bem para onde corremos, nem tendo sequer ocasião de nos perguntarmos porque o fazemos ou para onde corremos com tanta pressa. Acabamos, assim, por nos encontrarmos na caricata situação do coelho da conhecida obra Alice no País das Maravilhas, que está sempre atrasado, mesmo transportando consigo um relógio parado… E assim é por ser bem verdade o que diz Alberto Pimenta: «já nada é o que era / e provavelmente nunca mais o será / e mesmo que o fosse / algo me diz que já não seria o que era / porque o que era / era o que era por ser o que era».

Assiste-se, há alguns anos, a um movimento que visa redinamizar o comércio tradicional, aquele onde nos sentimos bem acolhidos (na maior parte das vezes), onde nos é dada atenção, onde recebemos conselhos sobre a qualidade do que vamos comprar. Mesmo os produtos que voltaram a estar certificados, ou que se tornaram produtos na moda, são completamente diferentes dos que encontramos nas grandes superfícies. E para o reviver do chamado «comércio tradicional» muito contribuem os turistas, até porque podem fazer compras dentro do horário em que as lojas estão abertas, porque estas dão um ar pitoresco a cidades, como Lisboa ou Porto, cada vez mais «apetecíveis», com um clima bom, um povo simpático e preços baixos.

Até mesmo os produtos «very typical», para que crescemos a olhar de soslaio, por representarem o Portugal dos nossos avós, são hoje recuperados e até já os vemos de outra forma, por reconhecermos neles o glamour que a etiqueta vintage lhes atribui.

Na era tecnológica e moderna em que vivemos, os movimentos slow, de defesa dos produtos biológicos, do regresso à terra, começam a ter cada vez mais força. Daí que muitas pessoas se recusem a pactuar com a era da informação, desliguem os ecrãs e se recusem a clicar nos links que lhes são oferecidos para obter mais informações.

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services