As contas a conta-gotas das autárquicas

A noite já ia longa e alguns resultados teimavam em não aparecer na página do Ministério da Administração Interna, levando os jornalistas que queriam enviar os jornais para as gráficas ao desespero. Agarrado à página como se fosse um altar, fiquei surpreendido com as contas de Lisboa que, a determinada altura, tiveram avanços e recuos.…

A noite já ia longa e alguns resultados teimavam em não aparecer na página do Ministério da Administração Interna, levando os jornalistas que queriam enviar os jornais para as gráficas ao desespero. Agarrado à página como se fosse um altar, fiquei surpreendido com as contas de Lisboa que, a determinada altura, tiveram avanços e recuos. Salvo erro, às duas da manhã estavam contabilizados 66% dos votos, quando passados poucos minutos essa aritmética passou para os 70%. Minutos depois voltava aos tais 66%, arrancando para os 75% por volta das 3h15. Nesta altura desisti e o jornal i foi com os resultados revelados pela página do MAI, com um erro de que não temos qualquer responsabilidade. Os números de Almada davam a vitória a Inês Medeiros por 213 votos, margem que subiu depois para 313. 

Mas não são as pequenas ‘avarias’ do sistema informático que me chamaram mais à atenção. O que me surpreendeu foi a demora e a sequência   escolhida. Ou houve uma grande coincidência ou os resultados mais ingratos para o PCP foram os últimos a sair. Almada e Loures demoraram uma eternidade e não foi dada nenhuma explicação plausível para esse facto. Em pleno século XXI faz algum sentido num país com tão pouco votantes que às 3h15 não se saibam os resultados finais? O que há assim de tão extraordinário para se entrar pela noite dentro para se saber que na Câmara de Lisboa não houve maioria absoluta? Não está aqui em causa nenhuma falcatrua ou ilegalidade, isso é completamente descabido, o que se contesta é a morosidade no processo. Passos Coelho foi no engodo dos números e acabou por se precipitar, revelando um grande amadorismo na sua estrutura. Como foi possível o líder do maior partido da oposição, apesar de ter sido o mais votado nas últimas legislativas, fazer uma leitura pública dos resultados quando estes estavam longe do fim? É certo que teve três derrotas vergonhosas – Lisboa, Porto e Oeiras – mas ter perdido 1177 votos no total do país foram suficientes para voltar atrás na palavras dada de que se recandidataria ao cargo de presidente do seu partido? Se uma semana antes não tivesse dito que não faria das autárquicas uma leitura nacional, ainda se perceberia, agora assim é de todo inexplicável. O mais engraçado é que aqueles que gritavam que Passos Coelho não tinha condições para ficar prefiram agora o conforto das cadeiras da televisão e de casa e deixem espaço para os Andrés Venturas da vida se chegarem à frente. Essas mesmas figuras esquecem-se que Passos ganhou as últimas legislativas, mas desprezou, é certo, as autárquicas. 

A candidatura de Teresa leal Coelho à Câmara de Lisboa não lembraria a um aluno de política da primária… Mas os críticos internos de Passos estão renitentes em avançar por uma razão muito simples. O Governo de António Costa está para durar, pensam, e só daqui a dois anos é que haverá eleições outra vez, pensam… É que os tempos da geringonça anunciam-se conturbados atendendo ao fel que o PCP está a destilar pela derrota estrondosa que sofreu… Veremos como irá António Costa, um verdadeiro mestre de cerimónias, fazer as pazes com Jerónimo de Sousa que está ferido no seu orgulho. 

Quanto aos resultados da capital, Fernando Medina teve aquilo que António Costa disse noutra altura: «Uma vitória por poucachinho». O homem que conseguiu ter uma verdadeira constelação de figuras públicas ao seu lado, acabou por sair chamuscado da escandalosa compra do seu apartamento e dos ajustes diretos que fez com a construtora no valor de cinco milhões de euros. Enquanto restarem dúvidas, Fernando Medina estará sempre numa situação incómoda.