Milhares de pessoas manifestam-se em Madrid a favor da unidade de Espanha

Depois do referendo na Catalunha, em que uma maioria esmagadora pediu a secessão, depois de Filipe VI de Espanha ter acusado as autoridades catalãs de “deslealdade” e “irresponsabilidade”, milhares de pessoas compareceram hoje em comícios na capital espanhola para exigir a integridade do território

Hoje ouve-se o outro lado. E não só Madrid se faz ouvir, mas milhares de pessoas tomaram parte numa série de comícios espalhados pelo país. Até em Barcelona. Exigiram que a situação não se degrade mais, e que a via do diálogo político venha pôr água na fervura nas relações entre a Catalunha e o governo central.

Os manifestantes apareceram vestidos de branco, e mostraram-se compassivos, envergando faixas onde podia ler-se "Espanha é melhor do que os seus líderes" e "Vamos falar".

A Fundação Caixa, que está à frente de um dos maiores bancos espanhóis, anunciou que irá mudar a sua sede para Palma de Maiorca enquanto a crise durar. Depois das inéditas cenas de violência que se registaram no domingo passado, várias empresas estão a anunciar que vão abandonar a Catalunha num momento em que as ambições secionistas desta região provocaram uma crise de consequências para já imprevisíveis e que está a reabrir velhas cicatrizes.

O cenário de guerra civil não é impensável depois dos resultados do referendo declarado inconstitucional pelo rei de Espanha, Filipe VI, com 90% dos 2,3 milhões de pessoas que conseguiram votar no domingo a exigir a independência. Cerca de 43% dos catalães desafiaram Madrid ao participar numa consulta que configurou um acto de declarada desobediência civil.

Com muitas das urnas apreendidas pelas autoridades espanholas, a actuação do governo central mereceu críticas de amplos quadrantes depois da polícia ter investido violentamente sobre populações que se manifestaram de forma pacífica.

Espanha aguarda o discurso perante o parlamento regional que o presidente catalão, Carles Puigdemont, agendou para terça-feira, receando-se que este declare a independência, aproveitando o momento de ruptura entre os catalães e o executivo dirigido por Mariano Rajoy.

Enquanto isso, o país assiste a uma deplorável troca de acusações entre Madrid e as autoridades catalãs. Enric Millo, o representante do governo central na região veio pedir desculpa, na sexta-feira, às quase 900 pessoas feridas pela brutalidade policial nos esforços de impedir que o referendo se realizasse. Contudo, Millo não reconheceu o erro do recurso à violência, como culpou o governo da Catalunha por ter forçado a mão de Madrid ao convocar uma consulta ilegal.

Ao mesmo tempo que pedia desculpa em nome dos agentes da polícia obrigados a intervir no passado domingo, Millo aproveitou para contestar os números de feridos, ignorando o facto de a indignação na região ter sido alimentada pelos inúmeros vídeos em que os agentes são vistos a distribuir porrada a torto e a direito, a homens, mulheres e idosos sem serem provocados.