Projeções precipitaram saída de Passos Coelho

O líder do PSDponderou anunciar a não recandidatura na própria noite eleitoral. Quando lhe deram as projeções para Lisboa e para o resto do país. No final, descontando Lisboa e Porto, onde o PSD foi arrasado, o partido até cresceu mais de 30 mil votos no resto do país. Já foi tarde.

Projeções precipitaram saída de Passos Coelho

No dia 1 de outubro de 2017, Pedro Passos Coelho não ia voltar atrás na sua recandidatura a líder do PSD. Passos e a sua direção de partido vinham, desde o congresso que o reelegeu líder depois das últimas legislativas, a insistir que o resultado autárquico não teria consequências diretas para a liderança. Passos reafirmou-o mais do que uma vez e foi com esse espírito que aguardou, no domingo passado, pelos resultados eleitorais. 

Aquilo que o fez ir de apresentar-se à corrida na semana anterior («Quando aparecerem eleições internas, apresentar-me-ei a essas eleições. Não sou de virar a cara») a recuar dramaticamente na noite de dia 1 («Farei a minha reflexão sobre as condições em que poderei ou não manter-me em disputa interna num mandato que terá eleições legislativas») tem explicação. 

Na sede nacional do partido, na São Caetano à Lapa, problemas informáticos e burocráticos levaram a que Pedro Passos Coelho discursasse (pouco depois das 23h00) com uma noção dos resultados autárquicos bem distante da realidade, isto é, da contagem final que seria somente finalizada já de madrugada. 

Passos sobrevoou o tema no Conselho Nacional, dois dias depois, em que anunciou que o resultado da sua reflexão era não recandidatar-se a líder. O resultado era «pesado». Mas sobre a noite do equívoco, disse Passos: «O resultado pode, dois dias depois, não parecer tão pesado quanto aquele que se afigurou no domingo à noite». Mas o mal estava feito. Passos já concentrara as atenções do rescaldo autárquico em si mesmo e a esquerda já tinha um perdedor a partir do momento em que recuou na intenção de ser candidato a líder. A noção errada dos resultados levou-o numa direção que tornou inevitável não reverter o irreversível. Só não o disse na respetiva noite por duas razões: a primeira, ouvir os mais próximos; a segunda, por receio de deixar o Governo de António Costa sem Oposição durante mais de dois meses. 
Na terça-feira, todavia, a bola de neve tornara-se demasiado grande para não sair de cena. «Foi uma retirada estratégica. E quem não leu isso assim não percebeu nada do que se passou nos últimos sete anos», diz fonte próxima do ainda líder da Oposição. Passos diz que não vai andar a «rondar» quem vier a seguir. Mas não se coibirá de falar. 

Traído pela estrutura?

«Confesso que este não foi um resultado que eu esperasse» foi uma das frases-chave da retirada de Passos Coelho. O SOL sabe que a direção nacional esperava, no mínimo, superar o mau resultado de 2013, em plena austeridade, e que o feedback que vinha reconhecendo nas apresentações de candidatos e visitas a concelhias contrasta em muito com os números alcançados nas urnas. 

Teresa Morais, vice-presidente de Passos Coelho, explicitou-o em entrevista à TSF: «A verdade é que onde as coisas correram mal, correram mal por decisões erradas que foram tomadas na escolha dos próprios candidatos pelas estruturas locais do partido, quer pelas concelhias, quer pelas distritais». E as críticas estendem-se ao fraco envolvimento dos líderes locais na campanha e à ‘distração’ com outros temas que não tinham nada a ver com as eleições locais.