A derrota de Passos Coelho e do PSD

Passos Coelho cometeu erros de análise, de estratégia e de escolhas nas eleições autárquicas, erros que pagou caro com a sua liderança.

Eu distingo três períodos em Passos Coelho. O primeiro até se tornar líder do PSD e vencer as eleições de 2011, em que foi arrojado, combativo, audaz, sedutor até. O segundo período foi o da governação, 2011-2015, no qual foi um estadista de corpo inteiro, a governar bem em condições extremas sob a troika. E o derradeiro e último, o período de oposição, que vai desde a moção de censura do outono de 2015 até às autárquicas de 2017.

Este período da oposição foi negro. Acumulou erros fatais, desde logo ter subestimado António Costa, que já tinha feito aquele tipo de acordos na Câmara de Lisboa com sucesso. Se Portas percebeu rapidamente o que lá vinha, Passos tinha a obrigação de ter percebido também, deveria ter saído imediatamente, permitindo que o PSD seguisse outro caminho. 
O segundo erro fatal ocorreu no inverno de 2015, quando não deixa que o PSD apoie o candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa, perdendo a oportunidade de aproveitar uma vitória estrondosa e de deixar eufóricos os militantes e simpatizantes do partido. 

Em julho de 2016, num Conselho Nacional em cuja ordem de trabalhos já se lia o assunto autárquicas, Passos Coelho, num dia aziago em que no Parlamento se chumba o nome de Correia de Campos para a Concertação Social, troca as voltas aos conselheiros nacionais que tinham vindo de longe para debater as eleições locais. 

Em vez de ser o primeiro Conselho Nacional sobre autárquicas, Passos Coelho resolve pregar aquele que ficou para a história como o ‘sermão do Diabo’. Este foi o terceiro grande erro. 

Quando, por mero decurso do tempo, o calendário das autárquicas se impõe, encontra um PSD que não está preparado. Encontra um PSD ressabiado, porque acha que ganhou as eleições mas não governa; institucionalmente só, apesar de ter um Presidente da República da mesma cor política mas com quem amua; complacente com o CDS, com quem sonha governar de braço dado; enredado num discurso que promete o Inferno e o Diabo às pessoas.

Foram demasiados os erros de análise e de estratégia, que só pioraram nas eleições autárquicas e se materializaram em más escolhas de candidatos. 

O resultado combinado de uma governação em condições duras e de uma péssima oposição só poderia dar no que deu, numa derrota autárquica catastrófica. Só não o viam os tiffosi que dependem sempre do líder e cuja pequena parcela de poder acaba no dia em que o líder cai. Ou então viam, mas a hipocrisia é tanta que, mesmo quando veem Roma a arder, dizem descansados que a noite está clarinha, ameaçando até com os leões quem tenha a audácia de apontar para as chamas. 

sofiarocha@sol.pt