A Linha do Oeste como devaneio socialista

«Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em cobardes». Abraham Lincoln

A Linha do Oeste, uma ferrovia criada ainda no século XIX e com quase 200 quilómetros de extensão, liga o Cacém à Figueira da Foz e constitui uma via fundamental no Litoral Oeste do nosso país.

Ao longo de mais de um século, esta linha foi servindo todos os anos muitos milhares de portugueses que vivem e trabalham nas regiões do Oeste e do Litoral Centro, assegurando igualmente um importante serviço de transporte de bens e de mercadorias de muitas empresas exportadoras.

A verdade é que, nas últimas décadas – mercê principalmente da falta de investimento na sua requalificação e modernização –, a Linha do Oeste tem enfrentado sérios problemas de sustentabilidade e de competitividade, o que levou à degradação do serviço prestado e ao consequente decréscimo da sua utilização, principalmente no que se refere a passageiros.

É certo que têm proliferado os estudos e os planos dos sucessivos Governos, assim como as petições de cidadãos e as recomendações políticas, seja do Parlamento nacional seja dos autarcas locais e mesmo das comunidades intermunicipais do Oeste e da região de Leiria. 

Ora, se o objetivo foi sempre promover a modernização da Linha do Oeste, há que reconhecer que aqueles estudos e planos quase nunca ‘saíram da gaveta’ e estas petições e recomendações caíram sempre em ‘saco roto’.
E a realidade atual é muito simples: os Governos não honraram sistematicamente os seus compromissos, e as populações do Oeste e de Leiria foram sempre politicamente ludibriadas e seriamente prejudicadas nos seus legítimos interesses e anseios.

Centenas de milhares de portugueses estão fartos de promessas não cumpridas e cansados de esperar pela atenção do atual Governo, que tarda em chegar!

Porque, se em 2011 o Governo do engenheiro Sócrates se comprometeu com a troika a «realizar uma racionalização da rede» ferroviária nacional, por forma a «reduzir os custos de transporte e garantir a sustentabilidade financeira das empresas» – o que condicionou necessariamente a ação do Executivo seguinte relativamente ao investimento na Linha do Oeste –, em 2017 o país já não se encontra refém dessas restrições à sua autonomia, não sendo toleráveis mais adiamentos.

E não haja equívocos: o transporte ferroviário, seja de passageiros ou de mercadorias, é consabidamente mais eficiente, mais seguro, mais económico e menos poluidor do que o transporte rodoviário.

É por isso tempo de o atual Governo, que se encontra em funções há já dois anos, colocar de uma vez por todas os utentes no centro da política de transportes, investindo na Linha do Oeste – seja na modernização da via férrea, na renovação das carruagens, na eletrificação da linha, na instalação de sinalização eletrónica e, finalmente, mas não menos importante, no reforço dos recursos humanos.

A requalificação da Linha do Oeste constitui um investimento estratégico para aquela região e para o país, e assume uma importância prioritária para as populações do litoral Oeste e de Leiria e para o próprio desenvolvimento económico e social do nosso país.

Foi recentemente anunciado que a Infraestruturas de Portugal fez saber que estaria para breve o lançamento de um concurso para obras de eletrificação e duplicação da linha ferroviária do Oeste, representando um investimento superior a uma centena de milhões de euros, dos quais quase três quartos provêm de fundos comunitários.

Certo é que esse concurso público já deveria ter sido lançado no início deste ano, pelo que é urgente que o Governo esclareça as razões por que tem suspendido na prática a modernização desta linha, que o anterior Governo tinha priorizado. As autarquias e o tecido empresarial de Leiria e do Oeste estão a ser prejudicados, bem como as suas populações, por mais este devaneio socialista de congelar uma decisão positiva para uma das regiões mais dinâmicas do país. 

O ministro do Planeamento e das Infraestruturas, tão pródigo em anunciar obras, deverá responder a várias questões. Desde logo, quando prevê o Governo lançar o concurso para as obras de eletrificação e duplicação da linha ferroviária do Oeste?

Que investimentos estão concretamente previstos em termos de modernização da via férrea, designadamente, quantas carruagens serão renovadas? Quantos quilómetros de linha serão eletrificados? Qual a extensão da duplicação da linha ferroviária do Oeste? Em quantos quilómetros será instalada sinalização eletrónica?

Qual vai ser o reforço de recursos humanos? Para quando – e com que calendarização – prevê o Governo a conclusão dos investimentos necessários para a modernização de uma infraestrutura ferroviária de tamanha importância para uma rede equilibrada de transportes e comunicações – onde, a par da rodovia, o pilar da ferrovia é muito importante. É que a linha do Oeste não pode continuar  dependente de devaneios socialistas.

Conveniente

Arábia Saudita e as mulheres
O Reino da Arábia Saudita, no seguimento da decisão de empreender um plano vasto de reformas políticas, económicas e sociais, decidiu que as mulheres vão finalmente poder conduzir. Sendo atualmente o único país do mundo onde tal não é possível (cada família gasta quase mil euros em motoristas para as suas mulheres), é uma decisão muito importante no domínio da igualdade e no combate à exclusão social.

Inconveniente

Poupança das famílias portuguesas
Os depósitos das famílias, em termos de poupança, baixaram cerca de 2,2 mil milhões de euros. Quebra acentuada – a maior desde 2003 –, reveladora de como vários indicadores económicos estão desconformes com a realidade do país.

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