Alemanha. Merkel caminha, mas ainda não masca pastilha

A chanceler enfrenta os primeiros obstáculos nas negociações de uma aliança inédita entre partidos antagónicos. 

A chanceler alemã teve esta segunda-feira uma demonstração daquelas que podem ser as dificuldades das próximas semanas, à medida que tenta construir uma coligação inédita de três partidos que, em não poucos assuntos, ocupam posições antagónicas.

Angela Merkel anunciou esta segunda um acordo com os democratas cristãos bávaros, o seu partido irmão entrado em caos depois das eleições, e concordou em estabelecer um limite no número de refugiados que a Alemanha pode aceitar por ano: 200 mil, com a chance de alterar as regras em caso de desastre humanitário ou guerra.

Merkel diz que o acordo constitui uma boa base de diálogo com os outros dois partidos da possível coligação de governo, mas o limite à chegada de refugiados – um desejo antigo dos bávaros da CSU, que sofreram uma quebra de dez pontos entre eleições e viram muitos votos voar para os nacionalistas da AfD – esbarrou já com o partido Os Verdes, que, a par dos liberais do FDP, são um dos dois parceiros obrigatórios para a solução Jamaica.

“Certamente não entrará no acordo possível de coligação”, lançou o líder do partido ecologista, Cem Ozdemir, dizendo esta segunda-feira que o limite negociado entre democratas cristãos não travará negociações, mas tão-pouco passará pelo partido.

Merkel, porém, parece ter as mãos atadas. A CSU sofreu tanto nas últimas eleições que chegou a considerar separar-se do partido-mãe CDU e a chanceler admite ter desvalorizado o efeito causado pela entrada de mais de um milhão de refugiados na Alemanha desde 2015.

“Chegámos a um resultado conjunto que, acredito, é uma base muito, muito boa para entrarmos em negociações exploratórias com o FDP e os Verdes”, disse a chanceler, informando que pretende começar o diálogo a sós a 18 de outubro e avançar para negociações a três passados apenas dois dias, a 20 de outubro.