Alto astral

Segundo a imprensa online, Pedro Santana Lopes vai mesmo recandidatar-se à liderança do PSD. Santana Lopes surpreende-me sempre pela sua persistência, que dita a sua sobrevivência política: ele nunca desiste. 

Por isso vale a pena recordar alguns episódios do governo que ele chefiou, o XVI governo constitucional, que durou entre julho de 2004 e março de 2005. Teve uma duração curta, apenas sete meses em plenitude de funções, que foi o tempo suficiente para o então presidente da República, Jorge Sampaio, perder a paciência com ele e dissolver o parlamento, convocando eleições antecipadas, que viriam a ser ganhas pelo PS de José Sócrates com maioria absoluta.

Famosamente, enquanto primeiro-ministro, Santana Lopes quis “subir o astral dos portugueses”, seja lá exatamente o que isso seja. De qualquer forma, para cumprir esse importante desígnio, Santana Lopes – com a ajuda de Bagão Félix como ministro das finanças – mandou a prudência financeira às urtigas. Os dados do INE mostram que o ritmo de aumento das despesas do Estado subiu de 2% imediatamente anteriores à chegada de Santana Lopes à chefia do governo, ou seja, no governo de Durão Barroso – ocupando Manuela Ferreira Leite a pasta das finanças – para 4,2% no seu governo. Isto é, mais do que duplicou. O que traz reminiscências da sua passagem como presidente do Sporting, onde foi instrumental para retirar do poder Sousa Cintra, mas onde só se aguentou um ano, sendo seguido por José Roquette, que demonstrou que rigor financeiro não é incompatível com a conquista de títulos de campeão nacional.

Voltando ao governo que Santana Lopes chefiou, não deixou grande marca. As chefias da função pública, apesar dos partidos que apoiavam o novo governo de Santana não terem mudado, foram quase todas substituídas. Na batalha sempre acesa para conquistar corações e mentes, conseguiu afastar temporariamente Marcelo Rebelo de Sousa do seu espaço de comentário televisivo semanal – o que foi justificado algo friamente, para não escrever algo pior, por Nuno Morais Sarmento, com o regresso das transmissões de futebol à estação televisiva onde Marcelo falava – e também pela autorização de última hora do seu ministro do ambiente, Luís Nobre Guedes, para o abate de alguns milhares de sobreiros. O único aspeto positivo de que me consigo lembrar é a determinação de António Mexia em introduzir portagens nas autoestradas SCUT. Não teve tempo para concretizar essa intenção, mas o tempo acabou por dar-lhe razão.

O que mais me espanta é como é que há tanta gente disposta a seguir um candidato com um registo tão fraco como Santana Lopes. No cômputo do que até agora conseguiu fazer, Santana perde por muito para Rui Rio. Mas a decisão é com os apoiantes do PSD. Até lá, votos de alto astral também para si, Dr. Santana Lopes.