O festejo mais apaixonante vai de Reiquejavique a Moscovo

A Islândia voltou a fazer história: será o país mais pequeno de sempre a marcar presença num campeonato do mundo

São já 19 os países confirmados no Mundial do próximo ano – sem contar com os três sul-americanos e um norte-americano que ficaram certos na madrugada de hoje, já após o fecho desta edição. Nenhum, ainda assim, tão apaixonante como a Islândia.

É verdade: os simpáticos nórdicos que protagonizaram um verdadeiro conto de fadas no Europeu do nosso contentamento voltaram a surpreender o mundo. Depois de chegarem aos quartos-de-final em França, deixando pelo caminho a Inglaterra, os islandeses viram calhar-hes em sorte um dos grupos mais equilibrados – senão o mais equilibrado – no apuramento para este Mundial: Croácia, Ucrânia, Turquia, Finlândia e Kosovo.

Dez jogos, sete vitórias, um empate e duas derrotas depois, a Islândia ganhou o grupo, atirando croatas para os play-offs e ucranianos e turcos para casa, e está num Mundial pela primeira vez na sua história – é, para já, o único estreante confirmado. Um feito incrível, ainda mais quando percebemos que este será o país menos populoso de sempre a marcar presença num campeonato do mundo: tem apenas 330 mil habitantes – nunca houve um país com menos de um milhão de habitantes a participar.

Num país com temperaturas mínimas bastante rigorosas durante vários meses – o que faz com que o campeonato decorra apenas entre maio e setembro e que a maioria dos relvados sejam artificiais, e os estádios indoor (cobertos) –, este sucesso explica-se com um investimento em infraestruturas, a aposta na formação e o acréscimo de qualidade conferido pela exportação de jogadores para Alemanha, Inglaterra, Dinamarca ou Noruega: dos 23 convocados para o último Europeu, todos jogavam no estrangeiro e a maioria havia saído do país antes dos 18 anos.

No fim do jogo com o Kosovo, vencido por 2-0 com golos da estrela Sigurdsson e de Gudmundsson, jogadores e adeptos presentes no Estádio Laugardalsvollur, em Reiquejavique, juntaram-se para fazer a celebração que apaixonou a Europa no verão de 2016, uma espécie de “haka” neozelandesa no râguebi que já tem lugar marcado para a Rússia. Heimir Hallgrimsson, o selecionador que até há pouco tempo acumulava essa função com a de dentista, resumiu desta forma o estado de espírito da nação islandesa no último ano: “Depois da enorme festa que foi a presença da Islândia em França, no Euro 2016, o mais difícil era voltar a motivar os jogadores. A primeira cerveja depois de uma festa não é a que sabe melhor…” Já o selecionador derrotado, Albert Bunjaki, considerou que os islandeses são “um bom exemplo para as pequenas nações, como o Kosovo, que ambicionam ter uma boa equipa e bem organizada no futuro”.

Egito também procura a história Além da Islândia, merece destaque também a Sérvia. que volta a um Mundial depois de ter falhado o apuramento em 2014 – e também os Europeus de 2012 e 2016. Os sérvios superaram a Irlanda, o País de Gales de Bale, que fica de fora, e também a Áustria. Rússia (anfitriã), Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Espanha, Polónia e agora França e Portugal são as outras seleções europeias já apuradas – ficam a faltar quatro, que serão determinadas após o play-off.

Nos outros continentes, a grande surpresa até agora é o regresso do Egito, ausente desde 1990, numa equipa que contava com Abdelghani, lenda do Beira-Mar. Agora, Hassan, do Braga, é o representante do campeonato português no conjunto dos faraós, que encerra mais uma curiosidade: se for utilizado, o guarda-redes El-Hadary torna-se o mais velho jogador de sempre num Mundial – terá 45 anos no próximo verão.

Registo ainda para a segunda presença consecutiva do Irão, que continua a ser treinado por Carlos Queiroz.