«Não vou clicar para obter mais informações»

«Não vou clicar para obter mais informações» é uma mensagem explícita, que encontrei no Porto. É a recusa de alguém em fazer aquilo que lhe é solicitado, habitualmente por qualquer página na Internet.

«Não vou clicar para obter mais informações» é uma mensagem explícita, que encontrei no Porto. É a recusa de alguém em fazer aquilo que lhe é solicitado, habitualmente por qualquer página na Internet.

Normalmente, é-nos dada informação básica, um pequeno resumo ou teaser, e pedem-nos para clicar num link, se quisermos ler mais e obter mais informação. Percebe-se que assim seja, para que as páginas possam apresentar um resumo dos principais assuntos, procurando, desta forma, ir ao encontro dos interesses dos vários leitores / utilizadores. No entanto, para quem está interessado num tema é algo incomodativo não poder ter acesso imediato à informação que lhe interessa e sobre a qual começa a ler. Ver-se forçado a seguir a instrução, quase uma ordem, de clicar para obter informação adicional é obedecer a uma máquina que passa a comandar a nossa vida, conscientes de que «o operário faz a coisa / E a coisa faz o operário», mas, muitas vezes, não conseguindo compreender, como o «operário em construção», do poema de Vinicius de Moraes, «por que um tijolo / Valia mais do que um pão». 

E, assim, há muitas pessoas que consideram haver demasiada tecnologia a guiar a vida. Consideram que o mundo está a tornar-se desumano, com tantas máquinas à nossa volta, e que importa valorizar o contacto humano em detrimento do contacto informático ou tecnológico.

Esta recusa em «clicar para obter mais informações» é uma contestação à obrigação de obedecermos a máquinas que controlam os nossos atos, que determinam as nossas ações, que regulam a vida. É a valorização da força do Homem quando este, nas palavras de Rudyard Kipling, é «capaz de ver destruído o ideal da vida inteira / E construí-lo outra vez com ferramentas gastas».

No entanto, não podemos recusar a tecnologia em todas as áreas da vida, porque, na realidade, a tecnologia tem vindo a facilitar o quotidiano. Basta que pensemos, por exemplo, nas mais básicas ou mais quotidianas, como as máquinas que cozinham por nós, os aspiradores que nos deixam a casa limpa, e as que, nas fábricas, garantem os processos de fabrico ou embalamento de todos os produtos que compramos, desde um mero saco de plástico a uma lata de atum ou uma saca de batatas.

Podemos também pensar nos equipamentos que realizam funções mais avançadas, como aqueles que garantem que um avião funciona quando queremos ir de férias, ou, mesmo, em todo o mecanismo de funcionamento de um «simples» automóvel. E, é claro, não podemos deixar de pensar nos computadores com que conseguimos realizar uma série de tarefas, profissionais e pessoais, tal como não podemos esquecer a tecnologia que assegura os serviços médicos que permitem garantir a nossa saúde.

Assim, pois, hoje já não conseguiríamos viver sem máquinas. Mesmo que nos queixemos de que as «máquinas» retiram espaço ao Homem, não podemos deixar de aceitar que facilitam, em muito, a vida, em todas as áreas. Recusar a tecnologia é, no fundo, negar a realidade e a evidência de que ela é essencial à nossa existência.

É certo que temos de defender a importância do relacionamento interpessoal e de que a tal informação adicional pode ser-nos transmitida por uma pessoa em vez de um clique no computador, mantendo, assim, a coerência connosco e com os outros, sem o que poderemos sentir-nos como Maria Teresa Horta: «Comigo me desavim / minha senhora / de mim». Não podemos é negar que esses cliques são úteis, mesmo que nos importemos de esperar por mais informação.

Não é um ato de insanidade lutar contra a «maquinização» do mundo. É um ato de idealismo, talvez utópico. Mas não é motivo para considerar louco quem o faz.

Maria Eugénia Leitão, Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services