Mães perfeitas

Quase todas as mães desejam ser perfeitas. Quase todas sentem que poderiam ser muito melhores do que são. E quase todas sentem-se muito mal por não serem como imaginam que deviam ser. Várias pessoas com quem falo mostram-se culpadas por não brincarem mais com os filhos, por não passearem mais com eles, por se irritarem…

Quase todas as mães desejam ser perfeitas. Quase todas sentem que poderiam ser muito melhores do que são. E quase todas sentem-se muito mal por não serem como imaginam que deviam ser.

Várias pessoas com quem falo mostram-se culpadas por não brincarem mais com os filhos, por não passearem mais com eles, por se irritarem mais do que gostariam, ou não terem mais tempo. Todas têm relações muito próximas com os filhos, acompanham-nos de forma atenta e preocupada e têm filhos felizes e saudáveis.

Felizmente hoje em dia é muito valorizada a relação entre pais e filhos. Além de toda a informação, estão à vista parques cheios de pais e crianças, atividades para toda a família e sabemos sempre de histórias de pais fantásticos totalmente dedicados que fazem coisas maravilhosas. O reverso da medalha é que, com tudo isto, a maior parte dos pais sente-se esmagada e reduzida à sua insignificância. Por muito que se faça, haveria sempre muito mais e melhor para fazer.

É ótimo para os pais que gostam de brincar com os filhos poderem e terem tempo para brincar, mas não é obrigatório que todos o façam. Isto leva a que pais fantásticos que cuidam e acompanham de forma exemplar os seus filhos se sintam em falta. Há sempre qualquer coisa que falha. E é natural e expectável que assim seja. Antes de pais, somos seres humanos. Somos todos diferentes, com as nossas qualidades e defeitos, os nossos limites, os nossos gostos e a nossa disponibilidade. Se uns brincam, outros jogam, outros passeiam, outros conversam, outros dançam e ouvem música, outros dão a mão, outros levam à praia, outros ao futebol, a comer um gelado ou, tão importante, estão, simplesmente.

Mães que se levantam dez vezes por noite, acordam de manhã num salto para tomarem banho, vestirem-se, arranjarem os filhos, engolirem qualquer coisa e darem o pequeno-almoço aos mais pequenos, os levam em contra-relógio à escola para ninguém chegar atrasado, passam o dia a trabalhar, saem a voar para os irem buscar, que ajudam nos T.P.C. e estão algum tempo ao seu lado, que tratam da casa, do jantar, dão banho, lhes vestem o pijama, prepararam a roupa para o dia seguinte, dão o jantar, lavam os dentes, estão ou não mais algum tempo a fazer o que quer que seja antes de irem para a cama, os deitam, dão beijinhos, voltam a dar beijinhos uma dezena de vezes, preparam o lanche ou almoço para o dia seguinte, voltam a tratar da casa e caem para o lado, sentem-se as piores mães do mundo porque não estão tempo suficiente, não fazem o suficiente, nem suficientemente bem. 

Toda esta dedicação é vista como o pacote básico. O pacote pobre. Porque há sempre na imaginação de cada mãe o pacote perfeito, da mãe perfeita que é a melhor amiga dos filhos, brinca o tempo todo e nunca se zanga. Não sei se uma mãe assim existe, nem se seria realmente uma boa mãe, mas habita certamente no imaginário de muitas mães suficientemente perfeitas que se preocupam e cuidam verdadeiramente dos seus filhos, fazendo-os seguramente muito mais felizes do que a mãe mais perfeita do seu fértil imaginário.