Europa tem de reforçar o poderio militar

Da área científica das relações internacionais sobreleva que um Estado alcança preponderância e evidencia o seu poder através da revelação da sua força económica, tudo impulsionado por uma forte liderança política alicerçada num credível poder militar.  Também se constata que, por detrás de um forte poder económico, se encontra sempre um potente poder militar, o…

Da área científica das relações internacionais sobreleva que um Estado alcança preponderância e evidencia o seu poder através da revelação da sua força económica, tudo impulsionado por uma forte liderança política alicerçada num credível poder militar. 

Também se constata que, por detrás de um forte poder económico, se encontra sempre um potente poder militar, o que irá permitir alicerçar e dinamizar o poder político de um Estado na escala hierárquica do ‘sistema mundial’, tornando-o um ator atuante e não dependente. 

Esta é uma era de elevada competição e interdependência – a denominada globalização -, obrigando a que às anteriores disciplinas universitárias da Geoeconomia e da Geoestratégia se tenham de adicionar as áreas de Geoeconomia e das Finanças, que irão materializar a força desse Estado e a demonstração no terreno do seu ‘poder nacional’.

Daí ressalta que uma potência rica, tecnológica e industrializada poderá sempre investir na sua força militar, em simultâneo com o desenvolvimento paralelo de uma credível diplomacia económica. 
Atualmente, os Estados Unidos constituem um exemplo esclarecedor da simbiose prática entre a força económica e seu respaldo pela força militar, combinando influência e preponderância política, económica, presença militar consentida, forte atuação internacional e ação cultural. 
A exposição e discussão desta problemática, de repercussões geopolíticas e geoestratégicas, têm vindo a ser feitas há anos no seio da NATO. E foi recentemente evidenciada pelo seu secretário-geral a quando da última reunião intergovernamental da Aliança, sendo perentório nas suas afirmações visando os líderes europeus: «Modernizem e inovem ou serão marginalizados; reduzam os atuais fossos tecnológico e militar com os Estados Unidos ou irão perder a capacidade de poderem desempenhar um papel de relevo no desenrolar dos acontecimentos ao nível mundial», com reflexos na Aliança!

Os Governos europeus defrontam-se com o problema de esse desnível ser agora tão grande em tão elevado número de áreas que não será possível colmatá-lo rapidamente. 
Os mais reputados analistas confirmam que se torna urgente para a Europa aumentar e melhorar as suas capacidades militares, desenvolver uma credível doutrina estratégica comum e proceder à identificação e avaliação das novas ameaças que se perfilam. Contudo, estes sentimentos realistas não têm passado de mera retórica e continuam sem ser confirmados através de soluções práticas e eficazes. Daí a Europa ser um ‘gigante económico’ mas um ‘anão político’. 
 O ponto é que a União Europeia não dispõe de forças militares próprias que atuem sob um Comando Único Europeu, contrariamente ao que se verifica na NATO. 
Do desconcerto europeu neste domínio resulta os governos gastarem de forma descoordenada as suas dotações orçamentais por perseguirem capacidades militares individuais, criando redundâncias. Excetuando o fator económico, as consequências mais sensíveis refletem-se numa nítida incapacidade de afirmação política e militar no mundo, e no seu prestígio. 

Nos conflitos das duas guerras do Golfo, da Sérvia, Bósnia e do Afeganistão houve um alargar destas lacunas, pois estas operações militares não teriam sido possíveis de executar sem o forte envolvimento americano. 
À Europa pouco mais restou do que uma situação de subalternidade face ao aliado, apoiando apenas em áreas secundárias, ignorando que a existência de novas ameaças implica a implementação de diretivas militares conjuntas que as possam conter.

Se os Estados europeus não reconhecerem ser urgente o desenvolvimento de uma mega ação de colaboração de rápida aplicação, conjugada com a alocação de significativos recursos financeiros para o setor da Defesa da UE, irão perder em definitivo poder, prestígio e credibilidade aos olhos do aliado americano e dos inimigos comuns. 

O que conduzirá à diminuição do seu estatuto político e militar internacional, e correspondente secundarização.