Rui Rio e uma entrada a pés juntos: no partido e no país

Rio afastou o fantasma do bloco central e o estigma da “direita”. Quer ser um partido de poder e não uma “muleta”. Houve elogio a Passos

Foi em Aveiro e não foi por acaso. Salvador Malheiro, líder do PSD nesse distrito, é um dos primeiros apoiantes públicos de Rui Rio na estrutura do PSD. O discurso primou pelo equilíbrio ideológico e estratégico. Uns diriam que “não foi carne nem peixe”, outros diriam que “deu uma no cravo e outra na ferradura”. A sala aplaudiu. E muito. “Rio vai em frente, tens aqui a tua gente!”. 

Rio não falou nem para a esquerda, nem para a direita, nem exatamente contra Passos, nem exatamente a seu favor, nem só para jovens nem apenas para veteranos. Usou a expressão “PSD” e usou a expressão “PPD”. A soma dos dois, no que toca à matemática nominal, fica para Pedro Santana Lopes. Numa disputa que, tudo aparenta, será entre as duas figuras de pendor mais “senatorial” ou experiente, Rui Rio certificou os presentes que não haverá “roturas geracionais”. Se na noite anterior Santana fizera elogio ao contacto com os quadros mais jovens do partido, Rio saudou “os mais velhos” – pelo saber e experiência – e “os mais novos”, pela dinâmica e pela ambição”. 

O ex-presidente da Câmara do Porto prometeu que consigo a presidente “o PSD não esquecerá o dr. Pedro Passos Coelho”, mencionando “o respeito, a consideração e gratidão” que tem pelo “serviço que Pedro Passos Coelho prestou ao país”. 

Mas nem o diagnóstico da conjuntura do partido nem a sua visão do mesmo foram inibidas perante esse respeito. “O PSD está hoje numa situação particularmente difícil”, reconhece Rio, que diz que não se pode fechar os olhos aos riscos de uma “situação de irrelevância”. E como se resolve isso? Primeiro, com “um banho de ética” e de “princípios e valores”. Para Rio, que não quer desiludir “a esperança que tantos têm” em si, é aí que começa o “PSD que Portugal tanto precisa”. 

Igualdade de oportunidades, solidariedade social e liberdade. São os direitos que “todos temos”  e que fazem com que o PSD não seja “um partido da direita”. 

“Somos sociais-democratas. Um partido do centro, que vai do centro-direita ao centro-esquerda” e não “um partido de direita, como alguns o têm tentado caracterizar”, acusou o nortenho sob mais aplausos. “Não é nem nunca será!”. Mas se com o Rio a líder o PSD não seria (ou não estará) à direita, isso também não quer dizer que se vá dar bem com a esquerda. O objetivo, revelou Rio, é “um partido de poder”, não um partido que seja “muleta do poder”.

O ex-autarca trouxe novidades, como “novas normas de funcionamento” e um partido “mais próximo das pessoas e do seu quotidiano”, mas também manteve alguns pontos defendidos por Passos Coelho nos últimos anos. “Alterações estruturais para garantir competitividade”, “mais para o futuro que para o presente”, são alternativas que Passos também atirava contra a ‘geringonça’. A denúncia das “contradições da coligação parlamentar” de esquerda foi outra semelhança entre ambos.  

O distanciamento entre os agentes políticos e os portugueses não é uma problemática nova a merecer a atenção de Rui Rio. Desta vez, porém, foi também transposta para “o desgaste do PSD face à sociedade portuguesa”. É preciso, então, “revitalizar a democracia” dar um “novo rumo” ao maior partido da oposição com “agentes políticos sérios e competentes”. A ideia será mesmo um renascimento do “contrato de confiança” entre o “povo anónimo” e a política. A ver quem o assina.