Pedrógão Grande. O que diz o relatório?

O relatório sobre a tragédia de Pedrógão Grande levado a cabo por uma Comissão Técnica Independente foi entregue esta quinta-feira na Assembleia da República

No documento, com quase 300 páginas, os peritos reconhecem que houve falhas no comando da proteção civil e que faltou dar instruções à população sobre a melhor forma de agir.

A comissão concluiu ainda que nas primeiras horas, deveriam ter sido dadas ordens para retirar as pessoas das aldeias em torno de Pedrógão Grande.

Hoje, o i noticia que Joaquim Leitão, presidente da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC), tem os dias contados à frente da entidade que é responsável pela resposta em situações de emergência e de calamidade, devendo ser exonerado do cargo na próxima semana. A saída do presidente da ANPC é já esperada pelos comandantes.

O que diz o relatório:

Rede Siresp

 

“Foi público e notório a falha da rede SIRESP. Está baseada em tecnologia ultrapassada (quando comparada com as tecnologias 3G e 4G). Representou, quando foi introduzida, um enorme avanço em relação à fragmentação passada. Mas não acompanhou a evolução vertiginosa que as tecnologias de comunicação sofreram nos últimos anos”

Fase Charlie

“A antecipação da fase crítica do DECIF poderia ter permitido a deteção mais precoce dos fogos nascentes e certamente teria tido implicações nos resultados do combate aos incêndios.”

Ataque Inicial

“Não houve pré-posicionamento de forças, nem análise da evolução da situação com base na informação meteorológica disponível. A partir do momento em que foi comunicado o alerta do incêndio, não houve a perceção da gravidade potencial do fogo, não se mobilizaram totalmente os meios disponíveis e os fenómenos meteorológicos extremos acabaram por conduzir o fogo, até às 03h00 do dia 18 de junho, a uma situação perfeitamente incontroláve”

As vítimas

“A maioria das vítimas mortais integra o segmento etário dos 20 aos 59 (cerca de 50% do total). As vítimas jovens (menos de 20 anos de idade) foram nove. As restantes vítimas têm idades superiores a 60 anos (cerca de 35%). Metade das vítimas eram residentes na região, embora pudessem ter a primeira residência nas vilas sedes de concelho, e 12% eram visitas regulares, por ventura com ligações familiares à região. Cerca de três quartos das vítimas faleceram no interior das respetivas viaturas ou na proximidade delas.”

Estrada da morte

“Quase metade das fatalidades (30) ocorreram num pequeno troço com cerca de 300 m na EN 236-1 com início (considerando o sentido Figueiró dos Vinhos-Castanheira de Pera) junto ao cruzamento para Várzeas/Vila Facaia, próximo da Barraca da Boavista. (…) Muito embora a atuação da GNR pareça, de acordo com as informações recolhidas, ter sido a correta, dentro de todos os condicionalismos, nomeadamente de comunicações, e tendo em conta a excecionalidade da situação, fica por apurar até que ponto o corte do acesso ao IC 8, terá tido alguma influência no relatado congestionamento de trânsito na EN 236-1 entre o cruzamento com estrada Várzea/Vila Facaia e o nó com o IC 8.”

Limpeza das bermas

“De todos os locais visitados nenhum apresentava indícios de ter sido alvo de medidas de gestão de combustíveis correspondentes aos critérios técnicos previstos no anexo do Decreto-Lei 17/2009 de 14 de janeiro.  Em particular, no caso da EN 236-1, verificou-se a existência de gestão das bermas da estrada, mas apenas numa largura máxima de aproximadamente 2m, não existindo evidências de que a gestão de combustíveis abrangesse a largura de 10 m prevista na legislação em vigor. ”

Demasiado aparato

“O comando e coordenação da operação era obrigado a intervalar o seu trabalho para realizar briefings às diferentes autoridades e entidades que ali se deslocaram. A presença continuada de altas autoridades, que aguardam pelas suas explicações, perturba naturalmente os trabalhos de comando”