Sócrates: “No final desta acusação, não vai sobrar folha sobre folha”

O antigo primeiro-ministro socialista deu hoje a primeira entrevista depois de ser conhecida a acusação da Operação Marquês e, como se previa, negou liminarmente ter sido corrompido. E disse que a acusação não passa «dos insultos habituais que o Ministério Público me dirigiu nos últimos tempos».

Questionado pelo jornalista da RTP Vítor Gonçalves sobre o dinheiro , Sócrates disse não ter sido o beneficiário de mais de uma centena de levantamentos, num valor superior a um milhão de euros. «Tem de questionar o eng.º Carlos Santos Silva. Há muitos documentos que provam que o dinheiro é seu (…) Alguém acredita que uma pessoa tenha não sei quantos milhões em nome de uma pessoa durante 10 anos e que a pessoa que é a real proprietária não tenha qualquer documento que acautelasse casos de morte, por exemplo?», questionou José Sócrates.

O ex-primeiro-ministro voltou a justificar o dinheiro que lhe foi dado por Santos Silva como um empréstimo, alegando que o que o MP encara como códigos, para dissimular os pedidos de dinheiro, são formas de falar entre amigos de longa data: «Tenho uma relação fraterna com Carlos Santos Silva (…) Os amigos constroem um mundo em comum, constroem referências, formas de falar. Foi por isso que me prenderam?».

No resto da entrevista, José Sócrates foi confrontado com as acusações do MP no que diz respeito aos negócios da PT, TGV, Venezuela e Vale do Lobo, negando sempre o seu envolvimento. «Este processo tem tudo a ver com a direita e a esquerda.  Todas as grandes imputações que me fazem pretendem criminalizar um período politico».

«No final desta acusação, não vai sobrar folha sobre folha. Quero que todos os portugueses saibam que este não foi um processo justo, o direito não é seguido para todos», acrescentou.

Visivelmente irritado com a condução da entrevista, José Sócrates mostrou-se surpreendido com a última pergunta de Vítor Gonçalves, que perguntou ao antigo líder socialista como pagava agora as suas contas. «Essa pergunta é uma afronta, indigna de um jornalista, é uma pergunta de Correio da Manhã», respondeu José Sócrates.