Sócrates. Um génio que andou quase sempre à frente do MP

Durante vários anos queixou-se da inexistência de uma culpa formada. O MinistérioPúblico acusa-o agora de 31 crimes que terá de os provar. Certo é que o primeiro-ministro é uma das mentes mais brilhantes deste país, só que a usou, supostamente, para fins errados.

Segundo a acusação não há margem para dúvidas: José Sócrates cometeu 31 crimes, entre corrupção passiva de titular de cargo público, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal. As provas que o Ministério Público recolheu, no seu entender, dão para provar que o antigo primeiro-ministro serviu-se do cargo para ‘arrecadar’ muitos milhões de euros, muitos deles provenientes do grupo Lena, do GES e da aprovação do empreendimento Vale do Lobo. Mas para chegar aqui, o Ministério Público andou a vasculhar outros processos, fazendo a ligação entre todos, procurando dessa forma desmontar a teia que o antigo primeiro-ministro montou nos últimos anos. Face Oculta, Monte Branco ou o longínquo Freeport foram alguns dos processo mediáticos que serviram de cola à Operação Marquês.

O que se tornou agora público para uma vasta audiência já tinha sido revelado ao longo dos últimos anos pelo SOL, merecendo o jornal, em várias ocasiões, os ataques de amigos e próximos dos agora 28 arguidos, entre pessoas e empresas. Mas o que sempre me surpreendeu foi a astúcia, inteligência e o maquiavelismo de José Sócrates que andou quase sempre um passo à frente da investigação. Quando os investigadores achavam que já tinham descoberto o fio à meada, surgiam novos episódios que os ‘mandavam’ para outras paragens, muitas das quais de difícil alcance, já que dependiam da boa vontade dos sistemas bancários e judiciais de outros países. 

Indiferentes a todos os ataques, os procuradores do Ministério Público não cederam e continuaram a fazer o seu trabalho, apesar de serem vilipendiados na comunicação social. Afinal, alguém no seu perfeito juízo ia perseguir um antigo primeiro-ministro e os empresários mais ‘fortes’ do país sem fortes indícios de corrupção? Não me parece, e chegou a hora dos franco atiradores começarem a responder pelos factos apurados e não pela sua convição.

A amizade é uma coisa muito bonita e percebe-se perfeitamente que um familiar, ou amigo próximo, do arguido y acredite na sua inocência, mas convenhamos que aproveitar o tempo de antena de que dispõem na televisão para intoxicar a audiência televisiva não é um ato muito dignificante. Sócrates, Salgado, Granadeiro e Zeinal Bava terão a oportunidade de se defenderem em tribunal. Veremos o que diz a sentença.