Paz social ameaçada

As cedências do Governo não são suficientes para a Frente Comum recuar na greve marcada para dia 25. Arménio Carlos avisou que ‘os trabalhadores já tiveram muita compreensão’.

As boas notícias para os funcionários públicos no Orçamento do Estado para 2018 não travaram os protestos contra o governo. A Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública anunciou uma greve nacional para dia 25 de outubro. E no dia 18 de novembro haverá uma «grande manifestação nacional», em Lisboa.

«A greve mantém-se», disse Ana Avoila ao SOL. A coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública lamenta que «passados dois orçamentos e a caminho do terceiro que continuem por resolver os problemas» e garante que os trabalhadores não «aceitam isso».

A Frente Comum reivindica aumentos de salários, o descongelamento das progressões na carreira de «uma vez só» e as 35 horas de trabalho para «todos os trabalhadores». Não é pouco, mas «se as reivindicações não forem satisfeitas naturalmente que a conflitualidade vai aumentar».

A geringonça tem sido elogiada, inclusive pelo Presidente da República, por ter trazido «a paz social». Ana Avoila admite que «as pessoas ficaram satisfeitas» com algumas reversões, mas o governo «tem de perceber, de uma vez por todas, que os trabalhadores quando derrubaram a maioria absoluta do PSD era para ter uma situação diferente, que lhes resolvesse os problemas e os principais problemas estão por resolver. Os salários continuam como no tempo da troika. Nós estamos a viver, em termos de custo de vida, pior, porque o custo de vida subiu através dos impostos indiretos».

PCP quer alargar e intensificar «a luta dos trabalhadores»

A CGTP anunciou, esta semana, a realização de uma «grande manifestação nacional» no dia 18 de novembro, em Lisboa. Arménio Carlos explicou que o objetivo é lutar pela «valorização do trabalho e dos trabalhadores, pela exigência do aprofundamento do rumo de reposição e conquista de direitos e pelo combate às injustiças e desigualdades».

O secretário-geral da CGTP mostrou-se mais exigente do que há um ano, quando foi discutido o orçamento para 2017, e avisou que «os trabalhadores do setor público já tiveram muita compreensão, mas a compreensão não é ilimitada. Não basta dizer que se muda de política. É preciso concretizar, na prática, essa mudança de política e é isso que, a meio do mandato, não se está a verificar». Numa entrevista à SIC, Arménio Carlos considerou que com as sondagens «a correr bem e os bons resultados» nas eleições autárquicas, que «foram bons» para o PS, «começa a haver alguma acomodação ao poder».

O mau resultado do PCP nas eleições autárquicas, que perdeu dez câmaras e quase todas para o PS, fez muita gente prever que o PCP vai endurecer a luta. Num artigo de opinião, no jornal Avante!, o dirigente comunista Francisco Lopes defende que «a luta dos trabalhadores e do povo que, com a intervenção decisiva do PCP, foi a alavanca que permitiu os avanços verificados até aqui, deve ser alargada e intensificada, a partir da ação reivindicativa nas empresas, nos locais de trabalho, nos setores – de que é exemplo a greve da Administração Pública de dia 27 de Outubro –, da ação das populações e dos mais diversos setores e da convergência da luta, desde já na grande manifestação nacional convocada pela CGTP-IN». As reivindicações de alguns setores têm subido de tom. Na primeira linha dos protestos estão médicos, enfermeiros e professores. Os polícias também se manifestaram esta semana para exigir o descongelamento das carreiras e protestar contra a falta de investimento nas forças e serviços de segurança.