Professores, políticos e taxistas

Víamos nos professores exemplos de dedicação à causa. Tudo isso desapareceu e hoje não são dignos de respeito

O final das celebrações da implantação da República, em Lisboa, foi coroado por uma ‘manifestação espontânea’ de professores, com protestos contra injustiças várias. Pela amostra das minhas relações pessoais, o eco foi reduzido e a simpatia é escassa. É uma pena que o apreço da Nação pelos educadores tenha caído tão baixo. 

Nasci num tempo em que, da primária à universidade, os professores eram merecedores de respeito e admiração. Com muito orgulho, acompanhei alguns dos meus professores, no seu final de vida, impelido por sentimentos de gratidão, de apreço e de genuína amizade. 

Uns vinte anos depois de inaugurada a Escola Industrial e Comercial de Almada, os alunos da fundação promoveram um convívio com os professores, então em número superior a trinta, experiência que repetimos anualmente, até que os nossos mestres nos deixaram. Tinham sido educadores, formadores, conselheiros e amigos. Víamos neles exemplos de dedicação à causa, que não queríamos deixar no esquecimento das boas intenções. 

Depois, muita coisa mudou. Na geração dos meus filhos, no início da década de 80, já não se via dedicação, nem aprumo e, claro, o respeito de pais e alunos também desaparecera. 

Causas mais visíveis: efusões revolucionárias, políticas erradas, modernidade mal entendida, liderança dos sindicatos, acesso à profissão sem ‘controlo de qualidade’, cumplicidade dos pais. Todos eles, e mais alguns, fatores que remeteram o ensino para o grau zero da respeitabilidade. O corporativismo de Salazar – em modo muito adulterado – prosperou na classe dos professores. A corporação teve rédea solta para destruir quase tudo. E teve meios para preparar as coisas à medida do egoísmo dos interesses – que eram os da lei do menor esforço e do prémio máximo. Cinco anos de anarquia bastaram para que uma elite respeitada baixasse ao fundo da tabela do reconhecimento social. 

Quando nos chegam notícias de cenas ocorridas numa escola, onde um professor homossexual aceita ‘brincadeiras’ de simulacros de sodomização pelos alunos, filmadas e postas a correr nas redes sociais, damo-nos conta de que o impensável pode acontecer. Terá sido uma infelicidade extrema, mas não é um caso isolado de enxovalho consentido.

Coisa parecida aconteceu na política, onde fomos assistindo à dramática expulsão da boa moeda pela má. Também aqui a classe não se protegeu. Também aqui, uns e outros foram tolerando as más condutas, que aviltam a representação democrática, a mais nobre das missões. Também aqui prevaleceu a lei do menor esforço e do prémio máximo. Nos casos mais mediáticos, prémios escandalosamente… máximos!

Aqui chegados, impõe-se que peça desculpa aos taxistas por tê-los colocado em má companhia. A sua corporação é muito má. É péssima! Como as outras, não cuidou de defender-se da ‘má moeda’ que a invadiu para lhe arruinar a reputação. A diferença é que as consequências das tropelias dos taxistas são menos devastadoras que as dos maus exemplos no ensino e na política.