Costa: “Nem a melhor floresta pode garantir que não há incêndios”

Primeiro-ministro segura Constança Urbano de Sousa depois da vaga de incêndios que entre este domingo e segunda-feira fustigou o país, causando, sengundo a Proteção Civil, pelo menos 36 vítimas mortais e 63 feridos.

António Costa não fará qualquer alteração ao seu governo depois dos mais de 600 incêndios que entre este domingo e segunda-feira deflagraram por vários pontos do país e que tinham causado, até ao início da noite de segunda-feira, 36 mortos e 63 feridos, além de sete desaparecidos. 

Na declaração que fez à hora do jantar ao país, o primeiro-ministro assumiu que terá de haver "consequências a retirar deste verão dramático" e que "depois deste ano nada pode ficar como dantes". Depois de prestar as condolências e solidariedade do governo às famílias das vítimas que desde domingo "tentaram salvar as suas habitações e empresas", Costa prometeu que, "apagadas as chamas, a solidariedade desta hora será consolidada na reparação dos danos sofridos por todos". 

"Todos os meios disponíveis foram mobilizados, incluindo as Forças Armadas", garantiu Costa, notando ainda que foram acionados os mecanismos de apoio internacional, designadamente o mecanuismo europeu de proteção civil, além de ativado o estado de calamidade em todos os distritos a Norte do Tejo. 

Conselho de ministros extraordinário

O primeiro-ministro lembrou que já no próximo sábado o governo reunirá em conselho de ministros extraordinário para começar a tomar medidas com base no relatório da Comissão Técnica Independente sobre a vaga de grandes incêndios florestais que este ano assolou o país, apresentado há quatro dias. 

Por ora o combate aos incêndios é "naturalmente a prioridade", disse o primeiro-ministro, sublinhando que "a prioridade ao combate não faz [o governo] esquecer o caráter estrutural dos problemas" com que o país se debate no domínio dos fogos florestais. "Por isso foi lançado o plano de reforma da floresta, de modo a assegurar a redução estrutural do risco de incêndio e a garantir que temos uma floresta sustentável, que não seja uma ameaça à segurança das populações". 

O desafio é grande mas o governo não o receia, garante o primeiro-ministro. "Pelo contrário, encontramos nesta exigência nacional a motivação acrescida para vencermos esta batalha", sublinhou o governante, lembrando logo de seguida que se há quatro dias foi apresentado o relatório da Comissão Técnica Independente constituída depois da tragédia de Pedrógão Grande, "a principal responsabilidade política deste governo é concretizar as conclusões e recomendações" desse mesmo relatório, onde espera poder encontrar "um terreno fértil pra a constituição de um consenso alargado" em torno dos problemas dos incêndios e da floresta. 

O dever de "responder com maturidade"

"Depois deste ano nada pode ficar como dantes", afirmou o primeiro-ministro. "Pedrógão será sempre um caso único, pela dimensão trágica das vidas humanas e pelos danos materiais. Ontem foi um dia terrivel mas um dia em que o nosso sistema teve que responder a mais de 500 ocorrências", ressalvou nas respostas às perguntas dos jornalistas que se seguiram à declaração ao país que teve início por volta das 20h15. 

"Neste momento temos algo que honrar: o dever de responder com maturidade àquilo que começámos com maturidade a construir. Desde há quatro dias que dispomos dessa ferramenta fundamental [o relatório da Comissão Técnica Independente]. E em dever ao respeito pelas vitimas temos que repeitar o trabalho cientifico que foi aqui concretizado. Aquilo que o país não compreenderia era que, depois de um consenso tao grande nesta comissão, termos um conjunto de conclusões e recomendações que caísse em saco roto. Não, não pode cair", prometeu. "Temos de passar das palavras aos atos e com toda a determinação executar a reforma da floresta, condição estrutural para melhor resistência aos incêndios, e ao mesmo tempo melhorar o nosso sistema de combate aos incêndios e fogos florestais."

Questionado sobre se o atual modelo de Proteção Civil seria mantido ou reformulado, Costa foi assertivo. "Não o queremos manter. Aceitamos, perante a dimensão da trag´rdia de Pedrógão, o repto que nos foi lançado de repensar o modelo e as conclusões [do relatório] apontam para uma reformulação", adiantou. 

"Acho que devemos seguir essas recomendações – digo isto com particular à vontade porque há dez anos concluí uma reforma da Proteção Civil que visava comprar tempo para o que era essencial: a reforma da floresta. Em 2012, alertei que estávamos a perder tempo para a reforma da floresta e que o tempo da reforma da Proteção Civil se estava a esgotar, e por isso há um ano iniciámos a reforma da floresta. Temos que nos centrar na reforma da floresta, mas claro que nem a melhor floresta pode garantir que não há incêndios, e para isso precisamos de um melhor sistema de combate."