A união nacional avança…

No Verão de 2015, Francisco Pinto Balsemão, fundador do PSD e dono do principal grupo de media português, foi ao Porto apresentar a biografia de Rui Rio, confessando a quem o ouviu que tinha achado o livro «muito interessante». Antes, em 2008, já o levara pela mão, juntamente com António Costa, ao famoso Clube de…

No Verão de 2015, Francisco Pinto Balsemão, fundador do PSD e dono do principal grupo de media português, foi ao Porto apresentar a biografia de Rui Rio, confessando a quem o ouviu que tinha achado o livro «muito interessante». Antes, em 2008, já o levara pela mão, juntamente com António Costa, ao famoso Clube de Bilderberg. 

Balsemão enganou-se em muitas escolhas que fez. Desistiu de ser primeiro-ministro – para além da experiência efémera que teve a seguir à morte de Sá Carneiro -, mas nunca desistiu de influenciar o processo político, como ‘militante número um’ do PSD. 

Talvez por isso, instou o biografado a «cavalgar o cavalo do poder», incentivando-o a ser candidato nas eleições presidenciais. 

António Costa partilha desde há muito com Balsemão o desvelo por Rui Rio – que, esta semana, ‘selou a montada’ para corresponder ao desafio de ambos. Disse um dia, aos microfones da Renascença, que só avançaria se o país «quiser muito». O país não se mexeu, mas ele achou que era o momento de avançar. 

A política, como o amor, obedece a uma alquimia que raramente se compreende. No caso, explica-se facilmente o enlevo de Costa. Já o fascínio de Balsemão por Rio (a personalidade «que mais me entusiasma e a que mais confiança me merece» para chegar a Belém) é algo imperscrutável. 

O certo é que se apressou a pôr a máquina mediática a funcionar. E, se a SIC ajudou com a Quadratura do Círculo (e Marques Mendes, no comentário dominical) a demolir Pedro Passos Coelho, o Expresso e a Visão seguiram o exemplo do canal aniversariante e foram lestos a dedicar capas e extensos trabalhos editoriais a Rui Rio, como putativo candidato à liderança do PSD. 

Pedro Santana Lopes teve o ‘prémio de consolação’ ao anunciar a candidatura no seu espaço de comentário na SIC, sob o olhar vigilante e cúmplice de António Vitorino.  

Os ventos correm de feição para António Costa. 

Se Rio conseguir a liderança do PSD, este ficará mais perto da órbita do PS. Se for Santana – que fez o favor ao PS de não concorrer a Lisboa nas autárquicas, para não estragar a vida a Medina -, também não causará mossa nas hostes socialistas, que terão argumentos de sobra contra ele, quando quiserem.  

Depois, tanto Rio como Santana se reconhecem na regionalização desejada pelo PS, e o primeiro não enjeita o chamado Bloco Central, acrescentando-lhe o bónus de alinhar com Costa num acordo de regime a dez anos. 

Perante tal sintonia, quer seja Rio ou Santana a ganharem o PSD, ficará cumprida a condição de Costa para voltar ao diálogo com os social-democratas, expurgados da ‘peste’ neoliberal, a etiqueta pendurada ao pescoço de Passos Coelho.

Diferentes no estilo mas não nas ideias, Santana e Rio (sobretudo este) protagonizam uma convergência que poderá amarrar o país a uma espécie de união nacional, consagrando uma aliança que Mário Soares ensaiou com Carlos Mota Pinto nos idos de 1983, numa situação de aperto. Durou dois anos.

Foi Cavaco Silva quem, ao ganhar o partido na Figueira da Foz, pôs fim ao Bloco Central. Ironicamente, a futura liderança do PSD dá sinais de querer recuperá-lo. 

Rui Rio ganhou notoriedade à frente da Câmara do Porto, quando enfrentou Pinto da Costa no auge da sua popularidade, forçando o ‘dragão’ a recolher à gruta. 

Depois dessa bravata, que lhe saiu bem, e de algumas decisões controversas, Rio achou que merecia dimensão nacional. O seu pensamento nunca ultrapassou, no entanto, a marca que o empurra para os braços de uma regionalização onde PS pretende segurar melhor as suas clientelas políticas. 

A regionalização, se alguma vez for por diante, será um embuste para multiplicar os centros de poder e envaidecer os caciques locais. Mas quer Rio, que a tem por «fundamental», quer Santana, para quem «a regionalização não pode ser um tema tabu», gostam da ideia. Ficou-lhes do ofício de autarcas.  

À cautela, o PCP está a descolar da ‘geringonça’ e a tentar controlar os danos, assustado com a perda de municípios emblemáticos. O Bloco oferece-se para formar qualquer maioria, desde que evite a reprise do afundamento de Louçã e possa cultivar a ‘ideologia do género’. E Assunção Cristas deve estar em profunda reflexão para perceber qual é o tipo de oposição que lhe convém, se mais agressiva ou contida.

Tudo somado, o PSD corre o sério risco de se transformar no PS (B) de Costa, que espreita a melhor oportunidade para ‘forçar a mão’ de Marcelo em eleições legislativas antecipadas, metendo no bolso Rio ou Santana e atirando a ‘geringonça’ para a sucata, cumprido o seu papel ‘redentor’.  

Em tempos, Rui Rio temia ver o país «caminhar para uma ditadura sem rosto». Não perca a esperança…