A refeição na escola não devia ser um castigo

Esta semana surgiram nas notícias e nas redes sociais imagens de refeições lastimáveis oferecidas nas escolas públicas. Nunca me passou pela cabeça que fosse possível a falta de cuidado chegar ao ponto de servir salgados crus. 

Já no que toca à comida em quantidade manifestamente insuficiente não é novidade. Infelizmente já há muito tempo que não há pudor em servir quantidades escassas a crianças em crescimento, o que volta e meia dá azo a queixas.

Não deixa de ser curioso como num país com fama (e proveito) de ter boa comida servida em quantidades generosas – para não falar dos constantes conselhos sobre uma alimentação saudável, chegando a haver nas escolas ações de sensibilização que roçam o ridículo, em que se encoraja os pais a prepararem lanches de legumes –, haja nas próprias escolas uma total indiferença relativamente à qualidade da comida servida.

Antes de o meu filho mais velho entrar para o ensino básico, a escola que ia frequentar foi-me apresentada por várias pessoas como boa, exceto na comida. Quem lá andava dizia que as refeições variavam entre peixe com espinhas, carne com gordura, sopa aguada ou comida dificilmente identificável. Não havia um único aluno que falasse bem da comida, chegando alguns pais a pedir ao médico uma declaração de que o filho tinha um problema de saúde para poderem levar o almoço de casa. No entanto, na reunião de início de ano, a diretora do agrupamento garantiu que, apesar das más-línguas, a comida da escola era ótima. Estariam todos os alunos enganados? De facto quando o meu filho – que, diga-se, é um ótimo garfo – entrou para a escola, confirmou as suspeitas e chegava todos os dias a casa faminto. Não pela quantidade insuficiente, mas pela qualidade intragável. Se em vez do farnel que passou a levar para o lanche, levasse só os tais legumes, não teria forças, nem ânimo, para chegar ao final do dia em condições. Passado um ano mudámos de casa, de concelho e de escola. Tudo era diferente – exceto a qualidade da comida.

 

Parece-me que há uma falta de respeito inadmissível pelas crianças que frequentam o ensino público no que diz respeito à alimentação. Se sabemos que a maioria das crianças são ‘esquisitas a comer’, que muitos não têm possibilidade de fazer uma boa refeição em casa e ao mesmo tempo que a alimentação é essencial à saúde, bem-estar, crescimento, bem como em criar bons hábitos de nutrição, como é possível servirem-se refeições totalmente desencorajadoras mesmo para as barriguinhas mais famintas? Terão as crianças feito mal a alguém para que a hora da refeição não possa ser prazerosa? Assim, até é natural que comecem a sentir repulsa por alguns pratos essenciais…

Não será certamente só a falta de dinheiro que produz refeições tão más. É principalmente o desleixo, facilitismo e indiferença. Das empresas que fornecem os almoços e das escolas que as escolhem, quando algumas até têm condições para confecionar as próprias refeições.

Há anos que penso nisto: se pedissem a algumas avós de alunos que estivessem desocupadas para se juntarem nas cozinhas das escolas a preparar o almocinho dos netos, tenho a certeza que, mesmo com menos dinheiro, sairiam refeições deliciosas!

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