Empresas ultrapassam preconceitos e abrem contas

Os falsos peditórios de Pedrógão fizeram com que muitos se retraíssem em dar dinheiro para as novas vítimas de incêndios. Parece que tudo está a voltar ao normal, mas com controlo.

Ao mesmo tempo que grupos de pessoas anónimas se juntam para, em mãos, ajudar as vítimas dos incêndios do último fim de semana, como o jornal i noticiava esta sexta-feira, também as primeiras iniciativas solidárias de entidades oficiais começam a surgir.

A Cáritas Portuguesa abriu, esta sexta-feira, uma conta para reunir donativos para as vítimas dos incêndios que deflagraram durante o mês de outubro.  Criada em parceria com a Caixa Económica Montepio Geral, a conta ‘Cáritas, com Portugal, abraça vítimas dos incêndios’ destina os donativos à «ajuda de emergência e para apoio na reconstrução de habitações, assim como outras situações que sejam imprescindíveis para a recuperação dos meios de subsistência», lê-se no comunicado publicado no site da instituição.

E esclarece (para se posicionar quanto à confusão com os donativos de Pedrógão Grande?) sobre o destino da verba angariada para o incêndio ocorrido em junho. «A Cáritas tem vindo a desenvolver diversas reconstruções de casas no seguimento dos fogos de verão que atingiram a zona centro […]. Até agora já estão em processo de reconstrução parcial um total de 14 habitações, 12 das quais nos concelhos de Castanheira de Pera e de Pedrógão Grande, e as restantes duas no concelho da Sertã. Assim, como o apoio a uma empresa familiar e duas reparações de habitações em Mação», informa o mesmo comunicado.

O mesmo caminho foi seguido por várias câmaras municipais ao longo da semana. As autarquias de Seia, Oliveira do Hospital, Penacova, Tondela, Castelo de Paiva e Vouzela abriram contas solidárias, com a maioria a reiterar que as verbas vão ser aplicadas exclusivamente na ajuda às populações afetadas pelos incêndios.

E porque os danos provocados não se cingem apenas às populações e aos bens materiais, a Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) está empenhada em ajudar as vítimas que não têm voz. O bastonário da OMV, Jorge Cid, alertou esta semana para o facto de terem morrido muito mais animais nestes incêndios do que em Pedrógão Grande, particularmente aves.

A ajuda aos animais que sobreviveram torna-se, por isso, ainda mais necessária, especialmente em face aos apelos dos produtores da zona, que têm contactado a entidade queixando-se da falta de alimento. Por isso, a OMV abriu uma conta solidária cujos donativos serão usados para a compra de alimentos e de medicamentos para os animais prejudicados.

 

Ajudaram Pedrógão e agora precisam de ajuda

A empresa Pereira & Irmão, Lda. foi protagonista de uma situação particularmente inesperada. Em junho, os responsáveis da empresa de São Pedro de Alva, em Penacova, recorriam ao Facebook para dar conta da doação de bens de primeira necessidade que fizeram aos Bombeiros Voluntários de Penacova, agradecendo-lhes pelo seu trabalho.

Esta semana, quatro meses depois, recorreram à mesma rede social, mas desta vez para pedirem ajuda. «Passado 22 anos de trabalho árduo, vimos 90% da nossa empresa a ser consumida pelas chamas», escrevem. «Tudo desapareceu». Pedem material de escritório, ferramentas e materiais de construção – e deixam o IBAN para eventuais donativos em dinheiro.