Andamos a comer assim tanto sal? Os rótulos não enganam, mas há surpresas

O governo anunciou uma nova taxa sobre batatas fritas, bolachas e cereais de pequeno-almoço. Será cobrada sempre que ultrapassem um grama de sal por 100 gramas de produto e o objetivo é reduzir o consumo de sal pela população. O i pôs-se em campo e foi analisar rótulos. Conclusão? Há batatas fritas que não vão…

Batatas fritas

As batatas fritas dão nome ao imposto anunciado pelo governo e são várias as conclusões que se pode tirar numa ida ao supermercado. Por um lado, constata-se que nem todas as batatas fritas vão ser taxadas. Isto porque há pacotes à venda que têm menos de um grama de sal por 100 gramas de produto. Ainda assim, uma ronda pelas prateleiras permite descobrir algumas pistas para encontrar pacotes com menos de sal.

Os três produtos de marca que o i analisou apresentam teor de sal superior a um grama em cada 100 gramas de produto, com valores nos 1,3, 1,5 e 1,7 gramas. Já entre os três produtos de marca branca, por sua vez, só um apresenta valores acima de 1 grama – 1,1 –, enquanto os dois restantes se ficam por 1 grama de sal em cada 100 gramas de produto. Assim, parece que os pacotes de marca branca tendem a ter menos sal, mas o melhor é sempre confirmar. Batatas fritas em azeite, que aparentemente são mais saudáveis, pode não quer dizer nada no que ao teor de sal diz respeito. O i verificou por exemplo que batatas “gourmet” tendem a ter mais sal do que outras que parecem mais básicas.

Bolachas

Quem não gosta de bolachas? Há para todos os gostos e todas as horas e sabemos bem que são irresistíveis. Mas é preciso ter cuidado, porque algumas enganam e têm mais sal do que aparentam, mesmo as bolachas doces. E tal como verificámos no caso das batatas fritas, também as bolachas de marca branca tendem a ter menos sal do que as bolachas de marca…

É o caso das típicas bolachas Maria: um pacote de marca branca apresenta 0,7 gramas de sal por 100 gramas de produto, enquanto o produto equivalente de marca tem 0,8 gramas por cada 100 gramas de produto. O mesmo acontece nas famosas bolachas de água e sal, que obviamente vão ser taxadas: se as de marca branca têm 1,5 gramas de sal, já as de marca contêm 1,8 gramas de sal. O caso muda de figura ao analisarmos os rótulos de umas determinadas argolinhas de chocolate: as de marca têm 0,3 gramas de sal e as de marca branca têm 0,5. O alerta principal fica para umas conhecidas crackers de pacote amarelo, adoradas precisamente por serem tão salgadas: têm perto de 2,5 gramas de sal por cada 100 gramas.

Cereais

Entre os cereais de pequeno almoço, há vários que não vão ser taxados. E a “regra” que verificámos nas batatas fritas e nas bolachas não é válida neste caso: há cereais de marca branca com menos sal do que os equivalentes de marca, mas o contrário também é verdade.

Comecemos pelas crianças. As duas variedades de cereais de chocolate de marca analisadas apresentam valores de sal de 0,5 e 0,3 gramas. Também os cereais de mel têm 0,3 gramas. Os equivalentes de marca branca têm, respetivamente, 0,5, 0,2 e 0,5 gramas de sal. Nos cereais destinados a adolescentes, os valores de sal nos cereais de mel sobem – 0,9 no produto de marca e um grama no produto de marca branca. No caso dos cereais de chocolate, os de marca têm 0,4 gramas de sal e os de marca branca têm um grama.

Já nos cereais de adultos, verificam-se índices de sal semelhantes. Dois produtos de marca – o primeiro, dirigido a quem quer manter a linha e o segundo publicitado como uma fonte de fibra – têm 0,9 gramas de sal. Os equivalentes de marca branca contêm 0,8 gramas por cada 100 gramas de produto.

Pão

O pão escapou ao imposto – é um bem essencial, base da alimentação –, mas não ficou à margem da atenção do governo. Na semana passada, o executivo assinou um compromisso com representantes do setor de panificação e pastelaria com vista, exatamente, à redução do sal no pão comercializado em Portugal. A medida faz parte da Estratégia Interministerial Para a Alimentação Saudável 2017-2020 e o objetivo é, até 2021, reduzir o teor máximo de sal para um grama em cada 100 gramas de produto. E mais: até ao final de 2019, querem-se as gorduras trans (artificiais) abaixo dos dois gramas por cada 100 gramas de produto.

A medida justifica-se? O i não analisou todos os tipos de pão à venda no mercado, é claro, mas viu os rótulos de três variedades de pão que estão, provavelmente, entre as mais consumidas pelos portugueses: pão de mafra, pão de leite e pão alentejano. Não têm teores de sal muito elevados: o primeiro fica-se por 0,8 gramas, o segundo apresenta um grama e o último é o único que ultrapassa o valor desejável, com 1,1 gramas de sal por cada 100 gramas de produto.

Sopa

Às vezes os maiores inimigos da saúde podem esconder-se sob os pratos confecionados com os alimentos mais saudáveis. Surpreendentemente, esse é o caso da sopa. Na assinatura do protocolo com o setor de panificação e pastelaria esteve presente a bastonária dos nutricionistas, Alexandra Bento, que apontou a sopa precisamente como outro “veículo de sal”, a par das batatas fritas, cereais e bolachas. O alerta é especialmente válido no que respeita à sopa que comemos fora de casa, em restaurantes, onde o uso de sal pode ser mais acentuado para dar mais sabor a uma entrada de que nem todos gostam…

Contudo, pelo menos no supermercado, a busca do i não revelou valores preocupantes. Na análise de quatro sopas – creme de espargos, creme de cenoura, sopa juliana e canja – nenhuma apresentava teores de sal superiores a um grama, sendo o valor máximo 0,9 gramas de por 100 gramas de produto.