Costa com ‘nervos de aço’ e Marcelo recusa ‘bate papo’

O primeiro-ministro continua a ser um ‘optimista irritante’ e acredita que ‘cooperação exemplar’ é para manter .

António Costa gosta de dizer que tem «nervos de aço» e esta semana voltou a utilizar essa expressão quando lhe perguntaram se já tinha recuperado do ‘choque’ com o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. 

«Eu tenho nervos de aço e sou, como sabe, um optimista. Às vezes talvez irritante, mas sou sempre um optimista e tenho a certeza que vamos retomar todos e prosseguir aquilo que os portugueses têm apreciado muito, da parte do Presidente da República, da parte da Assembleia da República, da parte do Governo, que é um excelente esforço de cooperação institucional», disse Costa, numa referência à afirmação feita por Marcelo, há mais de um ano, ao seu «optimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante».

O primeiro-ministro tentou desdramatizar o pior momento das relações entre Belém e São Bento e apelou a que «os órgãos de soberania continuem a fazer o que têm feito ao longo destes dois anos, que é ter uma cooperação exemplar entre si, contribuindo para um bom relacionamento institucional».

O Presidente da República preferiu não lhe responder: «O que interessa aos portugueses agora são, não palavras, mas factos, que é tratar das vitimas da tragédia». Marcelo não quer entrar em «mais bate papo», porque aquilo que interessa é trabalhar para «não haver mais tragédia nenhuma, mais nenhuma».

No meio de mais uma semana conturbada, o debate sobre a moção de censura, apresentada pelo CDS e discutida na terça-feira, acabou por ser um dos momentos mais favoráveis para o Governo. Permitiu, pelo menos, aos socialistas reclamar que a maioria continua «sólida». A moção de censura foi rejeitada com 122 votos contra e 105 a favor. Os socialistas, o PCP, BE e PAN rejeitaram, sobretudo, que este fosse o momento para abrir uma crise política. A esquerda não ajudou António Costa a defender-se das duras críticas feitas, no debate, pelo PSD e CDS. Limitou-se a acusar o CDS de querer aproveitar-se da tragédia. «É obsceno», afirmou Catarina Martins, do BE. «Inqualificável», disse João Oliveira, do PCP. 

O CDS aproveitou o vazio no PSD para dominar a agenda política. A direita esteve, no entanto, unida na acusação a António Costa de que falhou quando o país mais precisava dele. «Quando o país precisava de um estadista, constatou que tinha apenas um político habilidoso», afirmou Assunção Cristas. O debate terminou com o ministro Capoulas Santos a apelar a um pacto de regime para a prevenção e combate aos incêndios.