Santana, Macron e o futuro

A questão não é, portanto, um PSD mais à direita ou mais à esquerda: é um PSD melhor

Carlos Eduardo Reis, Conselheiro Nacional PSD

Portugal é hoje governado por um conjunto de interesses da esquerda moderada e radical, que pouco se importam em aplicar um programa que não é deles desde que sobre uma migalha programática que mantenha a pose na eleição seguinte. 

Nesse sentido, no início da disputa interna no PSD, ouvimos falar no reposicionamento ideológico: ou para voltar à casa de partida ou para melhor combater as esquerdas. Esta discussão tem feito o seu caminho com uma tónica quase comum. Somos nós que adaptamos o discurso à maioria de esquerda, reposicionando o partido como se ele se tivesse deslocado.

Quem entende que o PSD está à direita e por isso perde eleições – que terá de ser de centro-esquerda para vencer eleições – não percebeu o tempo político e a validade do acordo parlamentar que sustenta o atual governo. As eleições internas do maior partido parlamentar abrem uma oportunidade de clarificar o posicionamento a ter nesta realidade política. Este texto é sobre isso. 

Os tempos do resgate permitiram a uma oposição pouco séria arrastar o PSD para a conversa do «partido da direita». Este é um dos primeiros equívocos que o próximo líder do PSD tem de resolver. Não tem de inventar um posicionamento novo, mas deve perceber que a política se faz de ideias, e essas ou são boas ou más, independentemente de serem deste ou doutro tempo. A questão não é, portanto, um PSD mais à direita ou mais à esquerda: é por um PSD melhor. 

Hoje, as ideias ancestrais nunca foram tão novas porque nunca foram tão necessárias. E aí convém olhar para a França. A frescura da candidatura de Emmanuel Macron não derivava do seu programa, mas da coragem com que defendia o que mais ninguém tinha coragem para defender naquele momento: uma visão saudável da Europa, do Estado e da economia.

Tudo isso já fora pensado ou imaginado antes, muito antes. Mas as grandes ideias sempre foram aquelas que continuam jovens no tempo; ao contrário das outras, que envelhecem ao fim de uma semana. Macron, no meio dessa política ‘fast-food’, à esquerda e à direita, radicou o centro. Não com ideologia, mas com ideias para a França. No fundo, não procurou lutar contra aquilo que a França é, mas também rejeitou abdicar do que a França pode ser. Não quer um Estado que prenda o futuro dos mais jovens nem um presente que prejudique o próprio Estado. 

Portugal precisa disso na política. De um partido que não esteja constrangido pela sua conjuntura para conseguir ver além desta. Macron não chegou lá só porque era uma lufada de ar fresco no estilo cansado da política europeia. Venceu porque fez acreditar que com ele era possível por a ‘França em marcha’, que era possível fazer. E esta é uma conversa que não tem nada que ver com a idade. Ao contrário dos projetos aos extremos, Macron não quis destruir, quis construir. Não quis rasgar, quis unir os que têm rasgo. E esta última frase transporta-me para Pedro Santana Lopes, no seu discurso de apresentação à liderança. Santana também tem uma visão de Portugal que continua nova, que não envelhece numa semana ou numa notícia. Está para além do circunstancial. Quer construir sem destruir. 

Sobre o PSD, a discussão tem sido demasiadamente feita em torno de esquerdas e direitas, de novos ou velhos protagonistas, quando a verdade é que o sucesso – nos partidos, nas urnas e nos Estados europeus – tem sido feito de outra forma: de propostas para futuro. E Pedro Santana Lopes, ouviu-se, tem uma para este país.