O mais velho, Marcel Ravidat, tinha 17 anos e era aprendiz de mecânico numa oficina da Citroën. Quatro dias antes, andava pelos bosques de Montignac com um grupo de amigos quando o seu cão correu atrás de um coelho e se enfiou por um buraco no chão aberto pelo tombo de um abeto. Quando foi à procura do cão, Marcel descobriu um segundo buraco e ouviu as pedras a cair de uma grande altura. Pensou que se tratasse de uma ligação secreta ao castelo de Lascaux e ficou com ideia de ali voltar.
No regresso, em vez da tal ligação secreta, o que os quatro rapazes encontraram foram várias galerias decoradas com um conjunto impressionante de pinturas e gravuras feitas pelo homem pré-histórico, na sua esmagadora maioria de animais.Encontravam-se em perfeito estado de conservação, pois ao longo dos séculos a humidade ‘transpirada’ pelo solo formou uma espécie de verniz sobre a superfície da pedra.
De imediato foi contactado um perito em arte paleolítica, o abade Breuil, que não apenas confirmou a autenticidade daquelas manifestações artísticas como batizou a gruta de Lascaux para a posteridade, chamando-lhe ‘a capela Sistina da Pré-História’.
Fiquei há dias a saber, através de um documentário, que abriu recentemente Lascaux IV(sendo Lascaux II a réplicade 1983 para ‘poupar’ o monumento original e Lascaux III uma exposição itinerante com alguns fac-símiles das pinturas), um projeto que junta ancestralidade e alta tecnologia. Aberto desde dezembro de 2016, este complexo reproduz ao mais ínfimo detalhe o ambiente das grutas, as suas pinturas, a rocha onde se encontram, com todas as suas imperfeições e irregularidades, e até os níveis de humidade das galerias pré-históricas.
Qual o verdadeiro significado destas representações milenares? Procurei resposta para essa pergunta num livrinho de 1959 que adquiri recentemente. Porém, mais do que as teorias inconclusivas, prendeu-me a atenção a enumeração das espécies de animais representadas. Além de touros, cavalos, veados, ursos, mamutes lanudos e outros animais extintos, há ali também leões e até um rinoceronte. Quem imagina este grande mamífero em solo europeu fora de um jardim zoológico?
E, já que estamos a falar de animais, uma última palavra sobre o grande responsável por esta descoberta extraordinária. Era um rafeiro, chamava-se Robot e acabou por ser recuperado pelo seu dono ao final do dia.