Trump quer aumentar arsenal nuclear dos EUA

O empenho norte-americano para com os seus aliados tem sido questionado. Via nuclear ganha força na Coreia do Sul e Japão

A era da não proliferação nuclear pós-Guerra Fria parece estar a chegar ao fim. A administração de Donald Trump encontra-se a trabalhar num plano – o Nuclear Posture Review – para aumentar o arsenal nuclear norte-americano, rompendo assim com o legado dos seus antecessores. O novo plano não se limitará a multiplicar o número de ogivas nucleares, prevendo-se que também reduza os condicionamentos à sua utilização. Numa reunião com o seu estado-maior, em julho, Trump indignou-se com os gráficos que demonstravam a redução gradual do armamento nuclear norte-americano. Rex Tillerson, secretário de Estado, terá, no final da reunião, chamado “imbecil” a Trump por este querer aumentar muito o arsenal nuclear, segundo a imprensa internacional. A oposição de Tillerson parece não ter levado a melhor e o plano deverá estar finalizado entre o final deste ano e início do próximo. “Não há maior força para a paz no mundo do que o arsenal nuclear dos Estados Unidos”, disse o vice-presidente, Mike Pence.

Um dia depois de o chefe do Pentágono, Jim Mattis, ter afirmado que Pyongyang estava a “acelerar” o seu programa nuclear, Trump ordenou o envio de dois bombardeiros furtivos com capacidade nuclear para território sul-coreano. Esta decisão, tomada poucos dias antes de visitar a região, soma-se a outras, como a da realização de exercícios militares conjuntos, com o objetivo de acalmar os seus aliados regionais.

Mesmo assim, as declarações e decisões de Trump não têm sido suficientes para tranquilizar os seus aliados – situação semelhante à que levou França e Reino Unido a optarem pela via nuclear na década de 1950 face ao perigo da URSS – principalmente na região da Ásia-Pacífico, onde a ameaça norte-coreana está a provocar uma desestabilização.

Na Coreia do Sul, cerca de 60% da população é a favor do de-senvolvimento de arsenal nuclear próprio, enquanto quase 70% da população defende que Washington deveria reintroduzir armas nucleares táticas no seu território para dissuadir Pyongyang. Seul tem abandonado gradualmente a via conciliadora com o seu vizinho do norte e caminhado para o reforço das suas capacidades militares.

No Japão, o apoio público ao arsenal nuclear é diminuto em consequência da sua História. Ainda assim, o primeiro-ministro Shinzo Abe, que voltou a ganhar as eleições com maioria significativa na semana passada, tem defendido constantemente a alteração do estatuto pacifista da Constituição japonesa, o que permitiria ao país – que tem centrais nucleares para a produção de energia – desenvolver armamento nuclear. Calcula-se que tem capacidade para construir seis mil ogivas.

Na Austrália, Myanmar, Taiwan e Vietname também se começa a ponderar a possibilidade de desenvolver a via nuclear, o que torna cada vez mais real uma corrida armamentista, face à ameaça norte-coreana.

Irão está a cumprir

A opção nuclear de Trump contrasta com a postura que tem assumido sobre o acordo nuclear internacional assinado com o Irão. Ontem, em Teerão, Yukiya Amano, diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), voltou a contradizer o presidente dos Estados Unidos, garantindo, mais uma vez, que Teerão está a cumprir com o acordo. Depois de se ter reunido ontem com o presidente Hassan Rouhani, Amano disse em conferência de imprensa: “O acordo que o Irão assinou está a ser cumprido.”