Podemos faz o seu 155 na Catalunha

Chefe do partido desautoriza o líder local na Catalunha, convida-o a sair e convoca uma consulta às bases do Podemos na região rebelde

Pablo Iglesias não ficou contente que três dos quatro deputados do Podemos da Catalunha tenham votado a favor de parte da Declaração Unilateral de Independência, ainda menos que uma deputada tenha votado e saudado a independência e, ainda menos, que o coordenador do ramo do Podemos local, Albano Dante Fachin, tenha afirmado procurar uma coligação eleitoral com as forças independentistas para criar uma frente eleitoral contra a imposição do artigo 155 pelo governo Espanhol. 

A direção nacional de Pablo Iglesias já tinha decidido que a coligação eleitoral, a concorrer nas regionais convocadas por Mariano Rajoy para dia 21 de dezembro, seria com os Comuns de Ada Colau e deveria ser liderada pelo líder destes nas cortes espanholas, Xavier Domènech. “Se há companheiros que se sentem mais cómodos na ERC ou na CUP, têm que seguir o seu próprio caminho”, atalhou, cortante, o líder do Podemos, apontando a porta da rua a Fachin. 

A questão tem repercussões nacionais. A falta de clareza do Podemos sobre a questão da independência na Catalunha tem-lhe custado várias incompreensões na região e ameaça custar-lhe votos a nível nacional. Essa ambiguidade tem sido resolvida pelo partido afirmando que os catalães têm o direito a decidir o seu futuro, mas que a posição do partido é que fiquem numa Espanha federal em que as várias nacionalidades e nações históricas tenham outro tipo de enquadramento no todo nacional. Simplesmente na prática as coisas são às vezes pouco claras. Há poucos dias, Pablo Iglesias atacou forte e feio a Declaração Unilateral de Independência, garantindo que o referendo do dia 1 de outubro não tinha nenhuma legitimidade para a sustentar; quando antes do referendo disse que as pessoas deviam participar nele e depois elogiou o civismo dos catalães ao votarem apesar da “enorme repressão” a que foram sujeitos. Por um lado, o referendo vale; por outro lado, o referendo não serve para nenhum efeito político para o líder do Podemos.

A agravar a confusão, os próprios Comuns de Ada Colau já tiveram várias posições: a 9 de novembro de 2014 apelaram ao “sim” à consulta popular e ao “sim” à independência; mas atualmente a presidente da câmara de Barcelona é contra a independência, mas também contra a aplicação da suspensão da autonomia por parte do governo espanhol. 

Nas correntes nacionais internas do Podemos, a posição também não é unificada: recentemente a Esquerda Anticapitalista, a corrente que mantém melhores relações com os dirigentes que vieram do PSR no Bloco de Esquerda, e de que faz parte Dante Fachin, tomou posição a favor da formação da nova República da Catalunha. Esta posição foi tomada com a opinião contrária de Teresa Rodriguez, líder do Podemos na Andaluzia. 

Até agora Pablo Iglesias perdeu para Fachin todas as votações na Catalunha, mas agora convoca uma consulta para que as bases do partido decidam com quem querem ir coligadas. Uma votação que vai ser nos próximos dias, até porque o prazo limite do anúncio de coligações para as eleições de 21 de dezembro acaba já a 7 de novembro.