A psicologia na economia

A psicologia entrou em força na área económica. O recente prémio Nobel de Economia foi entregue a Richard Thaler, que ensina economia comportamental na Universidade de Chicago. Há quinze anos esse prémio foi atribuído a um psicólogo, Daniel Kahneman. E em 2013 coube ao economista comportamental Robert Schiller (juntamente com dois outros economistas).

Faz sentido que a psicologia seja um instrumento na análise e na teoria económicas. É que as decisões dos agentes económicos, públicos e privados, são tomadas por pessoas, não por robôs que funcionam mecanicamente. Ora as pessoas têm comportamentos diferentes umas das outras; e a mesma pessoa pode tomar posições diferentes ao longo da vida. Nem sempre agindo racionalmente.

Simplificando, agir racionalmente era, para muitos economistas do passado, maximizar em benefício próprio as vantagens económicas das decisões. Só que as pessoas também decidem em função de objetivos não egoístas. 

Por outro lado, mesmo quando as pessoas tomam decisões em função de finalidades altruístas podem não decidir racionalmente, mas impulsionadas por velhos preconceitos, tendências emocionais, episódios marcantes da sua vida, etc.

Há limitações cognitivas e preferências sociais (de classe, nível de escolaridade, etc.) que os psicólogos comportamentais têm vindo a descobrir. Como disse Richard Thaler, «os agentes económicos são humanos e os modelos económicos têm que incorporar isso». O ‘Homo Economicus’ é uma criatura mitológica.

Há pelo menos um século alguns economistas falavam das «gravatas inglesas»:  as pessoas só as compravam se fossem caras. Caso fossem baratas, acreditavam, seria por se tratar de gravatas de má qualidade. Uma irracionalidade precursora da economia comportamental.

A crise desencadeada em 2007 a partir dos Estados Unidos pôs em causa a chamada economia neoclássica. Essa economia multiplicou ao longo de décadas a utilização da matemática, construindo sofisticados modelos macroeconómicos. Só que esses modelos frequentemente estavam longe da realidade dos comportamentos humanos, assentando em pressupostos errados. Daí um novo impulso à economia comportamental.

Aqueles modelos partiam de ideias como a crença nos mercados eficientes, isto é, capazes de se autocorrigirem, ou nas expectativas racionais. E esqueciam que as pessoas cometem erros sem se darem conta disso. Um desses erros é valorizarem mais o presente do que o futuro, sobretudo quando o presente lhes corre bem; preferem comprar agora algo que os satisfaça, desistindo de um significativo ganho futuro. Ou importam-se mais com perder dinheiro do que se satisfazem quando o ganham – a aversão à perda é um sentimento assimétrico.

Esses e outros erros cognitivos são investigados em experiências com pessoas. Os psicólogos e os economistas comportamentais extraem conclusões dessas experiências empíricas. Conclusões muitas vezes discutíveis e discutidas.

O maior realismo da economia comportamental tem, todavia, um custo. É que dificulta a construção de teorias e modelos de validade geral e universal. Bem como aplicáveis no futuro a longo prazo: podem entretanto ter mudado muitos sentimentos na sociedade e nas pessoas. 

Mas a realidade é assim – diversa, mutante, avessa a generalizações e a princípios uniformes. O que implica humildade da parte dos economistas.