Seguranças bárbaros e encerramento popular

Vivemos um tempo em que se dispara primeiro e pensa-se depois, sendo as redes sociais o grande detonador dessa precipitação. 

Vamos por partes: três seguranças que trabalham no discoteca Urban Beach, em Lisboa, agrediram selvaticamente duas pessoas, no exterior da discoteca, próximo das rulotes que se encontram nas imediações do espaço. Nenhum dos agredidos esteve na discoteca e, ao que se diz, estariam a criar confusão nas imediações. Os ditos seguranças acharam-se justiceiros e praticaram os atos bárbaros que o país ficou a conhecer pela revelação de um vídeo nas redes sociais que se tornou viral. 

Os seguranças pertencem a uma empresa privada e foram autorizados a exercer a profissão quando adquiriram a carteira profissional passada pelo Ministério da Administração Interna (MAI). Pois bem, o que fez o Governo quando o barulho das redes sociais se tornou ensurdecedor? Decidiu, pelos vistos de madrugada, mandar encerrar a discoteca por volta das três da manhã do dia seguinte! O mesmo Ministério que é responsável por zelar pela segurança dos seus cidadãos, seja qual for a hora em questão. Em abono da verdade, nenhum polícia se encontrava nas redondezas do local onde ocorreram as agressões inqualificáveis. Em abono da verdade, o MAI é que autorizou aqueles seguranças a exercerem a sua profissão.  

Quem sai à noite sabe perfeitamente que nas redondezas do Urban Beach e na vizinha Lust in Rio são muitos os carros assaltados, além de pessoas num estado ébrio avançado serem agredidas, quando não lhes acontece algo pior. Mal saem das discotecas em causa são muitos os que já sofreram na pele a ausência de policiamento. E o que dizer do que se passa no Cais do Sodré, onde nos últimos três anos há a registar duas mortes por esfaqueamento? E o que dizer das centenas de jovens assaltados e agredidos nas imediações da ‘Rua Cor-de-Rosa’ por ‘dealers’ identificados pelas polícias, mas que agem impunemente batendo em todos aqueles que não gostam de ser abordados? É isto um estado de Direito? Fecha-se uma discoteca, é certo com má fama, à semelhança de tantas outras, porque apareceu um vídeo? Mas o que acontece nas imediações e no interior de outras não é o mesmo? O mesmo se passa em determinadas zonas do Porto.

Não é o Estado que tem falhado? Por causa das agressões e mortes no Cais do Sodré já se pensou encerrar toda a zona? O que faz sentido é o MAIcriar uma Polícia dedicada à noite, que esteja em permanente contacto com os responsáveis empresariais e que não lhes permita que exista alguma ocorrência que não seja comunicada – e se houver culpa dos donos da discoteca que se encerre então o estabelecimento. Todos devem ser encerrados se houver violência injustificada. Uma polícia especializada, à semelhança da que existe para as escolas, permitiria que os agentes soubessem das festas e que tipo de festas e noites temáticas existem. É que os públicos são muito variados e, às vezes, as discotecas recorrem a ‘armários’ para se precaverem de confusões, acabando por criar ainda mais…

Outra medida que ajudaria e muito a pôr alguma ordem no complicado e agressivo mundo da segurança, seria regressar ao tempo dos gratificados. Com polícias à porta está mais do que provado que as agressões diminuem bastante. Os ‘mitras’ evitam locais onde há agentes de autoridade. Em vez disso, o Governo optou por um encerramento popular. É mais fácil.