Soraya Sáenz de Santamaría. Quem é a espanhola mais poderosa na Catalunha

Uma das mais enigmáticas e temíveis governantes de Madrid apoderou-se do governo catalão. Soraya teve uma carreira fulminante desde que se pôs num autocarro de Valladolid para uma entrevista de emprego com Rajoy. Agora é a sua número dois e a próxima na linha de sucessão.

De Soraya Sáenz de Santamaría conhece-se o que ela e a sua quase mitológica assessora de imprensa querem que se conheça. Que é uma governante em tudo leal a Mariano Rajoy, a sua escolha para praticamente todos os problemas, a cara de várias crises espanholas, nas quais surge pragmática e férrea;alguém que prefere não desvendar os seus ideais políticos, se é que os tem, uma vez que, para ela «governar significa tomar decisões difíceis», e uma mulher que parece estar no seu melhor quando as tem que tomar. Dela conhece-se igualmente a sua ascensão meteórica e que a única coisa que mal disfarça é a ambição de escalar o degrau que falta, e assim tornar-se na primeira presidente do Governo em Espanha. Por agora, é a vice de Mariano Rajoy. E, desde que esta semana Madrid tomou o poder local catalão, também é a presidente distante e indesejada da Generalitat, comandando uma equipa de tecnocratas escolhidos a dedo para demonstrarem o mínimo de tendência ideológica e o máximo de competência. Tal e qual Soraya.

A vice-presidente espanhola não quis encarregar-se do comando da Catalunha mas soube desde cedo que seria ela na linha da frente caso fosse acionado o artigo 155, segundo escreve o El Confidencial. Soraya, afinal de contas, é simultaneamente vice-presidente e ministra das Administrações Territoriais de Espanha. Ainda tentou defender a aplicação de uma lei menos severa para controlar os independentistas, mas Rajoy e o Conselho de Ministros optaram pelo corte total. «Vai ter mais desgaste do que benefícios próprios», asseguram figuras do Partido Popular ouvidas pelo jornal espanhol. Recuperará, em todo o caso, parte da visibilidade que perdeu desde que há um ano se desocupou do cargo de porta-voz do Governo. E se Soraya – como é conhecida em Espanha – tem uma área de especialidade, essa área é a das crises, às quais se lança muitas vezes subestimada. «Se és jovem, mulher e medes 1,50 metros veem-te como alguém vulnerável», disse em 2008.

Soraya é por consenso a mulher mais poderosa em Espanha e por fama a sua política a mais oculta e temível. Duas jornalistas publicaram este ano uma biografia sua, não autorizada, mas nela conseguiram revelar apenas mais do temor que há em Madrid em criticar a vice-presidente do que da sua vida atrás das cortinas. «No livro há declarações de parlamentares do PP que não querem revelar o nome com advertências do tipo “não sabem o que estão a fazer” ou “ela controla o Centro Nacional de Inteligência, “neste livro ninguém vai querer participar, “é um livro muito perigoso”», contava em junho uma das autoras, Alejandra Ruiz-Hermosilla – a outra é Gabriela Bustelo. O livro A vicepresidenta, aliás, coloca sobretudo em foco María González Pico, a assessora de Soraya, no papel do escudo mediático atrás do qual a número dois de Mariano Rajoy consegue esconder as manobras políticas que em poucos anos a colocaram no primeiro lugar da linha de sucessão e sem inimigos à vista. «É fantástico que estejam, ao mesmo tempo, a Prisa, a Atresmedia e a Mediaset contra toda a gente menos Soraya», diz um elemento do PP na biografia, falando sobre os grandes grupos mediáticos espanhóis.

 

Soraya no autocarro

A carreira política visível de Soraya começa, em certa medida, num autocarro que apanha de Valladolid em direção a Madrid, em 2000, dois anos depois de se ter tornado advogada de Estado. Soube que o gabinete do então ministro das Administrações Públicas, Mariano Rajoy, procurava um advogado e Soraya caiu nas boas graças de Paco Villar, o veterano braço direito do dirigente do PP que a entrevistou. A seu tempo, caiu também nas boas graças de Rajoy. A jovem advogada nascida em Valladolid, no ano 1971, lá viveu e estudou até entrar na política, tornando-se rapidamente na mulher de confiança do ministro conservador da Galiza. Rajoy deu-lhe mais e mais responsabilidades, deixou de a encarregar apenas com os seus «papeles», e a pouco e pouco introduziu-a numa «assessoria discreta» e_«resolução de problemas», como escreve o El País.

Soraya enfrentou vários quando Mariano Rajoy a levou consigo para o Ministério do Interior. O_do naufrágio do Prestige, por exemplo, poucos meses depois de lá ter chegado. Ou o da crise das vacas loucas. Com eles, Soraya ganha notoriedade pública e Mariano Rajoy tarda pouco em sentir que a jovem que lhe apareceu em 2000 vinda num autocarro de Valladolid, sem qualquer experiência – ou filiação – partidária, está pronta para concorrer a deputada. Coloca-a por isso no 18.º lugar da lista do_PP_em Madrid, mas falha o alvo. Os resultados das legislativas de 2004 foram pior que o esperado e Soraya ficou de fora do Congresso.

Salvou-a a ida de Rodrigo Rato para a o Fundo Monetário Internacional e o lugar que deixa vago. Desde que o ocupa, ainda no mesmo ano das eleições, Soraya escala com rapidez as escadas da política nacional e num ápice, depois de quatro anos como porta-voz dos conservadores espanhóis, vai para a vice-presidência, em 2011. É nesse ano que atinge pela primeira vez o estatuto de celebridade nacional, ao apresentar-se ao trabalho apenas dez dias depois de ter dado à luz o seu primeiro filho, com o marido José Iván Rosa Vallejo, nascido de pai português e mãe espanhola. Vêm daqui os natais de Soraya em Badajoz. «Perú?», perguntava-lhe o El Mundo, em 2015, tentando perceber o que come a vice-presidente em dezembro. «Isso não», respondeu. «O meu marido é meio português e então jantamos até bacalhau. Sou mais de assado, sou de Valladolid».