EDP Innovation. Três dias que são seis meses

Em 2016, os responsáveis pela seleção de novos projetos e empresas dos programas de investimento da EDP conheceram na Web Summit 170 startups com potencial. Este ano, esperam subir a fasquia

Para Luis Manuel, administrador da EDP Innovation, é fácil justificar a presença de uma empresa como a EDP na Web Summit. “Três dias aqui equivalem a seis meses de trabalho”, responde sem hesitar, fazendo referência a uma das potencialidades reconhecidas por todos na maior cimeira de empreendedorismo e tecnologia do mundo: o networking. E é com networking que a EDP reconhece e investe em empresas ligadas ao setor de energia, tanto na ótica do consumidor como a de distribuidor – já lá vamos.

Só no ano passado, os responsáveis pela seleção dos projetos conheceram ali 170 empresas com potencial. Dessas 170 empresas acabaram por redundar apoios a vários projetos – num processo altamente seletivo. Dois desses projetos estão agora em fase de concretização. “E também acabámos por investir numa empresa que conhecemos aqui o ano passado”, recorda o administrador.

Ontem, no primeiro dia de trabalhos, chamemos-lhe assim – já que segunda-feira foi apenas o dia de abertura do evento – a fasquia já estava alta. “A nossa expectativa este ano é que consigamos conhecer mais, com mais qualidade, e que possam resultar em várias formas de colaboração, com investimento ou não”, resume. Mas quais são as startups com potencial interesse? “Costumamos dividir as nossas prioridades em cinco grandes áreas”, diz Luis Manuel. “Há umas que são mais óbvias: tudo o que tem a ver com o relacionamento com o cliente, o que inclui desde painéis fotovoltaicos em casa das pessoas, sistemas de gestão de consumos domésticos, mobilidade elétrica e conceitos novos, como baterias, por exemplo”. Depois desta área virada para o cliente, a EDP Innovation procura empresas numa área a que chama de “smarter grids, de redes mais inteligentes”. Neste caso, procuram ideias “dirigidas ao ativo da rede de distribuição e que envolve tudo o que tenha a ver com a contagem inteligente, novos processos, capacidade de prever os consumos e a injeção de energia na rede, um aspeto cada vez mais importante com a penetração das renováveis”. A terceira área, muito em voga, é chamada de “cleaner energy”, que assenta, no fundo, nas energias renováveis. As últimas duas são transversais – uma é o storage, ou armazenamento de energia – “uma área muito importante com a penetração das renováveis” – e o quinto segmento de interesse é o “da digitalização, em que olhamos para a Inteligência Artificial e para machine learning”.

Quem tiver apenas uma ideia, também pode candidatar-se a investimento, embora Luis Manuel admita que é mais complicado. “Temos outros mecanismos para apoiar ideias, as pessoas podem concorrer, por exemplo, ao OPEN Inovation, para conceitos um bocadinho mais early stage, e aí, mesmo que não ganhem, vão aproximar-se”, sugere.

Com estas cinco áreas de interesse em mente, a EDP procura investir e colaborar com empresas com ideias fora da caixa no mercado da energia. E os frutos já estão aí. No final de 2016, 30 empresas tinham passado pelos programas EDP ou tinham recebido investimento. Nestas empresas trabalhavam, há um ano, mais de 300 pessoas. E as empresas tinham sido responsáveis por mais de 40 milhões de euros de vendas. “Achamos que este ano os números vão subir imenso, com uma variação de quase 50% em todos os indicadores”, resume Luís Manuel.

Fundos e programas

Para este responsável, “é sempre difícil identificar o número de startups em que já apostámos”, uma vez que por baixo do chapéu da inovação a empresa tem várias iniciativas. “Conseguimos colocar um número nas startups que estão ou dentro de um programa EDP Starter, temos três programas hoje em dia, um em Portugal, outro em Espanha e também no Brasil; ou as que foram investidas pela EDP Ventures, que é o nosso fundo corporate VC”, explica.

Além dos vários programas de aceleração e incubação, a EDP ganhou recentemente um dos fundos do IFD. “E lançámos um novo fundo, a EDP Ventures 2, digamos assim, que tem 25 milhões de euros para investir em startups e em projetos em Portugal”, aponta. Isto a juntar-se ao mais velhinho EDP Ventures Standard, ativo desde 2008, e que tem feito investimentos primariamente em Portugal.

A meta, diz o responsável, é ter um “ecossistema completo que seja capaz de apoiar ideias, de passar das ideias aos protótipos, que tenha a capacidade de fazer projetos piloto de grande ou de pequena dimensão e que tenha a capacidade de investir nas empresas”. Até porque, até 2020, a empresa comprometeu-se a investir 200 milhões de euros em inovação. “Se algo que tem qualidade chega até nós, procuramos ter instrumentos para apoiar”. Um carrossel que já conta com muitos nomes – ao lado, damos a conhecer quatro empresas em que a EDP investiu.

Quatro Start Ups

BeOn

Já imaginou ligar um aparelho à tomada que, em vez de consumir energia, vai dar energia aos restantes aparelhos domésticos lá de casa? Não é preciso imaginar mais – existe, é uma tecnologia assente na energia fotovoltaica, foi criado em Portugal e já é um sucesso. No fundo, a BeON criou um equipamento que transforma – ou liga – um painel solar a uma tomada elétrica comum. Basicamente, basta comprar um destes kits solares, seguir as instruções como se fosse montar um móvel, ligar a tomada e… voilá, está a produzir a sua própria energia. Os kits são modulares, ou seja, pode acrescentar conversores conforme o número de moradores e necessidades de cada núcleo familiar. “Em Portugal já há 10 mil casas equipadas com o nosso sistema, o que equivale a 30 mil equipamentos”, resume Rui Rodrigues, o cérebro por detrás desta energia limpa. “A ideia de fazer este conversor surgiu há seis anos”, recorda. Depois disso, venceram, em 2014, o concurso de inovação da EDP e já estão a construir a própria fábrica em Ponte de Sor.

Delfos

Um engenheiro nuclear, um engenheiro aeronáutico e um administrador de empresas sentiram que, no Brasil, o gap nos parques eólicos eram muito grande em relação às restantes energias renováveis. Uniram esforços para resolver o problema e, há dois anos e meio, criaram a Delfos, com o objetivo de “fornecer Inteligência Artificial à indústria de energia”, resume Guilherme Studart, o administrador. Trocando por miúdos, a Delfos faz essencialmente duas coisas: primeiro, prevê as falhas no sistema. Depois, e como só monitorizar erros não serve de nada sem arranjar soluções, a Delfos “acumula [numa plataforma] todo o conhecimento para informar os proprietários e ajudá-los a resolver as falhas”. A empresa – que, no passado, venceu a 5ª edição do EDP Open Innovation – voltou este ano ao Web Summit já numa outra fase. “No ano passado viemos com uma ideia, este ano estamos na fase beta, falta só chegar à versão final”, diz Guilherme. No Brasil, já monitorizam cerca de 200 turbinas eólicas. Em breve, arrancam com um projeto piloto na Europa.

Egg Electronics

Pode uma “ficha tripla bonita” ser um negócio de sucesso? Pode, veio a Egg Electronics provar. O produto estrela da companhia chama-se EGB Power Station e é uma multi tomada cujas capas – todas com padrões apelativos e que podem ser personalizadas – podem ser trocadas como se de um telemóvel se tratasse. A ideia surgiu em 2013 na cabeça de Tiago Venda Morgado, CEO e fundador da empresa que é uma das apostas da EDP Innovation. Em outubro do ano passado, fecharam a primeira grande ronda de investimento através da Portugal Ventures. Agora, estão numa fase de “super crescimento”, conta Tiago. Acabaram de entrar na Amazon – já estão, por exemplo, em mercados como a Alemanha, França, Itália e Espanha – e já tiveram que repor stock duas vezes. “Vendemos 500 unidades em três semanas”, diz o CEO. “E na FNAC esgotámos em todas as lojas”. Uma reação que “excedeu as expectativas”. A linha parece continuar a subir: durante a curta conversa com o i na Web Summit, aproxima-se mais um investidor interessado no produto. Desta vez, da Índia.

Pro-Drone

Os drones não são propriamente uma novidade, é certo. Mas o conceito chave da Pro-Drone vai para além de um drone industrial equipado com uma câmara alta definição. Os drones desta startup, fundada e liderada por Arthur Soares, estão equipados com algoritmos de controlo de voo que permitem aos próprios drones tomar decisões na hora de captar as imagens – a ideia é que consigam identificar o mais rápido possível eventuais problemas. No fundo, esta startup propõe “um método de inspeção para as turbinas eólicas que vai permitir aos operadores uma redução dos custos”, explica Arthur, garantindo que este tipo de inspeção vai permitir aos detentores dos parques eólicos poupar oito vezes mais. A ideia é que, com menos custos, a energia eólica possa ser um bem cada vez mais acessível a todos. “Já temos uma base com 18 mil danos identificados em Portugal e no Brasil”, diz o CEO. Quanto mais depressa acumularem os dados, mais rapidamente criarão modelos que permitirão analisar e minorar os danos mais frequentes nas turbinas.