Legionela. MP podia ter ido buscar os corpos aos hospitais

Mortes vieram a público na segunda-feira pelas 17h30. Autópsia não é obrigatória nos óbitos nos hospitais com causa conhecida, mas é vital para um processo na justiça. MP só determinou diligências quando os corpos já tinham sido entregues às famílias

A PSP interrompeu ontem o velório das duas vítimas mortais do surto de legionela que teve origem no Hospital de S. Francisco Xavier depois de o Ministério Público ter ordenado a realização de autópsias, “diligências que considera essenciais para a investigação em curso”, indicou ao i a Procuradoria-Geral da República.

Segundo o i apurou, a realização de autópsias não é obrigatória em caso de óbitos nos hospitais com causa conhecida, mas perante um processo na justiça em que haja lugar a indemnização são uma peça fundamental para provar o nexo de causalidade. A intervenção do MP surgiu, contudo, 24 horas depois de as mortes serem confirmadas oficialmente, numa conferência de imprensa convocada pela Direção-Geral da Saúde na segunda-feira, pelas 17h30. Foi já depois desta conferência que a PGR informou, na noite de segunda-feira, estarem a ser recolhidos elementos sobre este caso. Só ontem pelas 19h30 a PGR indicou que os elementos recolhidos tinham dado origem a um inquérito, que se encontra em investigação no DIAP de Lisboa. Os corpos das vítimas terão permanecido nos hospitais de Santa Maria e Lusíadas de segunda para terça-feira e só depois de serem entregues às famílias surgiu esta instrução. A PGR não esclareceu se a instrução não poderia ter sido dada mais cedo.

Velórios estavam a começar Os velórios das vítimas estavam a começar quando foram interrompidos pela chegada da polícia. Segundo o i apurou, o corpo do homem de 77 anos que não resistiu às complicações da infeção com legionela quando tinha ido ao S. Francisco Xavier fazer apenas análises de rotina tinha acabado de chegar aos Jerónimos, onde seria velado. Estava apenas a família, que compreendeu a situação, por desejar que tudo seja esclarecido. Era um homem saudável, com uma vida ativa. Aos fins de semana gostava de caçar, disse ao i fonte próxima da família.

Já de acordo com o “Correio da Manhã”, a outra vítima, de 70 anos, estava a ser velada na Igreja do Santo Condestável, em Campo de Ourique, quando apareceu a polícia. “Dizer que é uma situação muito sensível é pouco e foi difícil de gerir. Foi desconfortável, mas teve de se cumprir. As pessoas estavam desagradadas com a situação, o que é natural, mas não houve problemas de maior”, disse a PSP, citada pelo “CM”.

Esta situação veio a público algumas horas depois de a diretora-geral da Saúde e do ministro da Saúde procurarem deixar uma mensagem de tranquilidade à população, assegurando que o surto que foi detetado na sexta-feira no Hospital DE S. Francisco Xavier estará já numa fase descendente. Estão confirmados 35 casos. Cinco doentes permanecem internados em cuidados intensivos, mas Graça Freitas indicou que estão estáveis. O ministério já determinou vistorias a todos os equipamentos e o ministro da Saúde disse não ser um argumento sério atribuir o surto a falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde, a crítica feita pela Ordem dos Médicos mas também pelo PSD. Ontem, Hugo Soares acusou o Estado de “falhar onde não pode falhar”. 

Para o ministro da Saúde, é já claro que se tratou de uma falha técnica que pretende esclarecer no relatório pedido à DGS e ao Instituto Ricardo Jorge. No terreno está também, além do Ministério Público, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde. Ontem, os Serviços de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) garantiram que as quatro torres de arrefecimento do hospital – entretanto descontaminadas – tinham manutenção quinzenal. As últimas análises, a 16 de outubro, tinham dado negativo para legionela.