Catalunha. Greve mínima, perturbação máxima

A paralisação em nome dos presos políticos falhou as mobilizações de outubro, mas os transportes pararam na mesma e à força. Em Madrid equaciona-se a libertação dos presos catalães sob a mão mais leve do Supremo.

A greve geral desta quarta-feira na Catalunha não repetiu a grande mobilização do dia 3 de outubro. Foi tíbia, afetou sobretudo o setor do ensino e pouco ou nenhum impacto teve no comércio e na indústria regional. O governo espanhol, que comanda agora o dia-a-dia da região temporariamente não autonómica, anunciou ao início da tarde que a paralisação não ultrapassava os 31,5% e sugeriu que se olhassem os valores de consumo de eletricidade para o comprovar.

A Endesa fê-lo ao fim do dia e anunciou que na Catalunha se consumiu mais 7,7% de eletricidade na parte da manhã do que no mesmo período de terça-feira. Até às 17h locais, assegurou, o consumo foi quase 3% mais alto. O município de Barcelona, por sua vez, registou apenas 15% de adesão à greve.

A paralisação foi mínima, todos concordam, mas a perturbação foi desproporcionalmente elevada. A dada altura, ao início da tarde, mais de 30 estradas, acessos e troços de autoestradas estavam cortados por ajuntamentos de piquetes. Em Girona, o terminal do comboio de alta velocidade com destino a Madrid foi bloqueado por centenas de pessoas que protestavam contra a ingerência do governo espanhol e reclamavam a libertação dos independentistas catalães.

A mensagem correu as redes e, ao final da tarde, a via dos mesmos comboios em Barcelona estava também cortada. Os transportes públicos, segundo fizeram saber, tinham condutores mas não estradas. “Adesão mínima e estragos máximos”, queixou-se o ministro da Economia, Íñigo de la Serna. O cartaz de protesto mais célebre desta quarta parecia responder-lhe: “Lamento que o meu protesto colapse o teu trânsito, mas a tua indiferença está a colapsar o meu país.”

A mobilização mínima, contudo, não é surpresa. A greve foi rejeitada pelas grandes centrais sindicais, como a CC OO e UGT, por exemplo, que embora tenham promovido protestos pela liberdade dos independentistas presos em Madrid e em solidariedade com o ex-governo catalão em Bruxelas, classificaram a paralisação como um “protesto lateral”.

Os partidos secessionistas defenderam a greve, como também as organizações Òmnium Cultural e Assemblea Nacional Catalana, mas, no essencial, colocaram-se justamente no plano do protesto contra a ingerência de Madrid e longe da paralisação.

E assim aconteceu que as manifestações pela liberdade dos presos políticos fossem esta quarta-feira os grandes símbolos da contestação, e não tanto as ruas, muitas delas movimentadas como o habitual. “Prisão para Mariano Rajoy”, “Puigdemont é o nosso presidente”, ouviu-se esta quarta na Praça da Catedral, onde se reuniram cerca de 25 mil pessoas.

Altura do Supremo?

Também esta quarta-feira, o Tribunal Constitucional decretou a inconstitucionalidade da declaração unilateral de independência do final do mês passado e enviou à Procuradoria acusações de crime de desobediência contra a presidente do Parlament catalão e dois membros da sua mesa.

Também aqui não há surpresa e Carme Forcadell tem já hoje um encontro com o Supremo Tribunal para responder por outros alegados crimes, denunciados antes do simulacro de independência de 27 de outubro. Que o vá fazer diante do Supremo e não diante da Assembleia Nacional é uma distinção importante e que em breve pode tornar-se a norma para os acusados no movimento independentista catalão.

O “El País” avançava esta quarta que o Supremo Tribunal de Espanha pode vir a reivindicar controlo sobre todos os processos ligados ao independentismo. Hoje, esses processos estão divididos entre tribunais catalães, Assembleia Nacional e Supremo que, segundo o diário espanhol, defende uma abordagem mais suave e vem protestando em privado contra as prisões dos políticos catalães.

O governo de Mariano Rajoy e o Ciudadanos concordam cautelosamente com a migração do processo para o Supremo e até com a libertação dos presos. Os olhares estão postos nas eleições de dia 21 de dezembro e os partidos anti-independentistas não querem a martirização dos detidos políticos.