Portugal é o quarto país da OCDE onde as pessoas se sentem com pior saúde

OCDE publicou hoje o relatório “Health at Glance”. Há boas e más notícias

Portugal é dos países onde a população se sente menos saudável. Dados do relatório “Health at Glance”, conhecido hoje, revelam que Portugal é mesmo o quarto país da OCDE onde menos pessoas se sentem bem ou muito bem de saúde. O relatório tem por base indicadores referentes ao ano de 2015 e só a Coreia, o Japão e a Letónia surgem pior neste indicador. Em média, 68,2% dos cidadãos da OCDE sentem-se bem ou muito bem de saúde e em Portugal apenas 46,4% da população adulta tem esta perceção. Um terço dos portugueses sentem-se razoavelmente bem e 18% – quase um em cada dois – sente-se mal ou muito mal. Na média dos países da OCDE, apenas 9,4% da população está nesta situação.

Quando se tem em conta apenas a população com mais de 65 anos, Portugal é o segundo país atrás da Letónia onde menos pessoas se sentem bem de saúde – apenas 12,7% reportam estar bem ou muito bem. A média da OCDE está nos 44,9%.

O relatório alerta que Portugal é o quarto país da OCDE com maior incidência de demência, atrás de Japão, Itália e Alemanha. A nível global, 70% dos casos surgem depois dos 80 anos de idade.   

A OCDE revela ainda que Portugal é o país, de 18 analisados, onde menos pessoas com mais de 65 anos recebem cuidados continuados – em média, 13% dos cidadãos nesta faixa etária têm acesso a cuidados continuados e em Portugal a percentagem é de 2,1%. Aqui, constata-se também que a fatia de cuidados domiciliários noutros países já é bastante superior, o que poderá explicar a falta de cobertura nacional. Esta tem sido uma área que o governo já considerou  prioritária.

A análise estima ainda que 8% dos portugueses com mais de 50 anos cuidam diariamente de alguém. E Portugal é o país onde mais mulheres acabam por desempenhar este papel: o sexo feminino representa 70% dos cuidadores.

Boas e más notícias

O relatório traz outros indicadores para Portugal, uns mais positivos que outros.

Por um lado, assinala que as famílias portuguesas gastam proporcionalmente mais com saúde do que a média dos países da OCDE. No geral, as famílias da OCDE aplicam 3% do seu orçamento em despesas de saúde e Portugal é dos países onde as chamadas despesas do próprio bolso (medicamentos, taxas moderadoras, consultas particulares) levam 3,8% das verbas disponíveis no agregado familiar.

A OCDE revela que Portugal não está entre os países onde mais pessoas faltam a consultas por dificuldades financeiras. Na Polónia, um terço da população passa por isso. Em Portugal, aconteceu a 8,3% da população. Ainda assim, há países onde a percentagem de cidadãos nestas circunstâncias é mais residual, como Alemanha e Espanha, onde menos de 3% da população prescinde de consultas por causa dos custos.

O país está menos bem no que diz respeito aos medicamentos: entre os 15 países analisados nestes indicadores, Portugal é o quarto onde mais pessoas deixaram de adquirir medicamentos em 2016 por causa dos custos (10,1%). Pior só EUA, Suíça e Canadá.

Menos mortes por AVC e bom rastreio do cancro da mama

Numa ótica mais positiva, a OCDE assinala que Portugal está entre os países onde as mortes por AVC mais diminuíram desde os anos 90, uma redução superior a 70% que pode ser atribuída à redução de fatores de risco e melhoria nos tratamentos, lê-se no relatório. Recorde-se que os hospitais portugueses têm hoje uma “via verde” para estes casos onde a intervenção em tempo rápido diminui o risco de morte e sequelas.

Portugal é ainda o segundo país europeu onde mais mulheres entre os 50 e os 69 anos fazem mamografias regularmente.

Outra boa notícia está na resposta cirúrgica às cataratas. Portugal conseguiu encurtar os tempos de resposta para a média europeia. E segundo a OCDE, se no ano 2000 apenas 10% destas intervenções eram feitas com alta no próprio dia (a chamada cirurgia em ambulatório) hoje 97% das operações às cataratas já dispensam internamento. A resposta a fraturas da anca, onde Portugal surge menos bem, é uma das áreas a melhorar.