Costa, bombeiros e pirocumulonimbo

Faz meses, depois de Pedrógão, António Costa atirou-se com unhas e dentes ‘à direita’ por, nas palavras do secretário-geral socialista na rentrée de Faro, «andar todos os dias a atacar os bombeiros portugueses». Na altura, PSD e CDS reagiram com estupefação e, não vislumbrando qualquer declaração de seus dirigentes passível de tal interpretação, exigiram retratação…

Faz meses, depois de Pedrógão, António Costa atirou-se com unhas e dentes ‘à direita’ por, nas palavras do secretário-geral socialista na rentrée de Faro, «andar todos os dias a atacar os bombeiros portugueses».

Na altura, PSD e CDS reagiram com estupefação e, não vislumbrando qualquer declaração de seus dirigentes passível de tal interpretação, exigiram retratação pública a António Costa.

Obviamente, bem podiam esperar, e sentados, porque António Costa não a fez, nem faria.

A leitura imediata  foi a de que o líder do PS e da ‘geringonça’ já estava era a preparar terreno para, na primeira oportunidade, dar uma catanada nos bombeiros e nos interesses, compadrios e lóbis aos mesmos associados.

Assim dito, assim feito.

Claro que, à Costa, com tudo embrulhado nos mais rasgados elogios à coragem, ao voluntarismo, ao esforço e abnegação dos milhares de soldados da paz das centenas de corporações do país.

Se o escudo da direita falhou, António Costa resolveu dar o peito às balas e enfrentar as corporações e, sobretudo, a Liga comandada por Jaime Marta Soares.

Costa foi ao Congresso da Liga dos Bombeiros dizer-lhes que, não obstante a sua dedicação e galhardia, os seus préstimos são dispensáveis nas frentes de fogos florestais, onde só deve haver lugar para profissionais e especialistas, devendo os voluntários dedicar-se exclusivamente ao apoio às populações.

Costa sabe que não está a meter-se apenas com milhares de bem intencionados voluntários que se dedicam à causa pública e à defesa das vidas e bens dos seus concidadãos. Sabe que está, sim, a varejar uma colmeia de lóbis e lobistas que envolvem interesses de largos milhões de euros por ano.

O caminho da profissionalização do combate aos fogos, com especialistas quer na prevenção quer no combate, com sapadores e envolvimento dos militares, sobretudo da Força Aérea e do Exército, colheram frutos na vizinha Espanha e noutros países que enfrentaram os mesmos problemas em matéria de condições climatéricas e de desordenamento da floresta.

O voluntarismo, dos bombeiros como de muitos outros milhares (ou milhões) de portugueses, é nobre e de enaltecer.

Mas deixar nas mãos do voluntariado as funções mais essenciais do Estado – seja qual for – é um erro grosseiro, com resultados necessariamente imprevisíveis.

Em matéria de incêndios, evidentemente, o mal não está no voluntariado. Mas também está.

Bem podem vir especialistas dizer que a culpa é de um raio, da trovoada seca, do pirocumulonimbo – a última explicação para os fogos de 15 de outubro, fenómeno raro e nunca por cá antes visto.

Costa, sempre preocupado com a sua própria imagem e a do seu Governo – não deve ser por acaso que não têm vindo a público os resultados do ‘focus group’ que o PS ainda deve continuar a consultar semanalmente -, saiu-se esta semana com um anúncio extraordinário: os bombeiros voluntários vão ter um reforço de verbas de um milhão de euros no próximo ano.

Pois sim, um milhão a mais e fogos florestais a menos, e o mais certo é 2+1 dar resultado 1, que Mário Centeno é hábil nas contas e não dá ponta sem nó.

Diz o teorema de Pitágoras que, num triângulo retângulo, a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Costa e Centeno, por mais pitagóricos que possam ser, em matéria de matemática e de números, conseguem, de facto, fazer a quadratura do círculo. E dar a volta aos contribuintes. Que, no final, pagam e não bufam, comem e calam.

Os bombeiros voluntários que se preparem. O fenómeno (reforma profunda na prevenção e combate aos fogos) está em marcha e promete limpeza nunca por cá antes vista (tal como o pirocumulonimbo).