Um drama chamado água ou a falta dela

O país vive um perído de seca profunda, mas a mensagem não passa

O país vive um perído de seca profunda, mas a mensagem não passa. Quem vive em Viseu sabe que quando abre a torneira e vê água sair, embora com menos pressão, é porque a Câmara tratou de a ir buscar a barragens que ainda têm o precioso líquido. 27 camiões fazem o trajeto diariamente para encherem os reservatórios municipais que depois levam a água até às habitações. Para a semana, segundo o presidente da autarquia, admite-se o recurso a comboios que partirão de Lisboa carregados para suprirem as faltas existentes. Os camiões, que noutras alturas andam carregados de vinho, já não dão para as encomendas e é necessário reforçar a ajuda.

Quem vive em zonas que ainda não foram afetadas, não faz a mínima ideia do drama. Mas se as redes sociais transportam muitas coisas más, também é verdade que o oposto acontece. São muitos os jovens que estão conscientes do problema e começam a adotar medidas para diminuir o consumo de água. Medidas tão simples como comprar um balde onde se aproveita a água do chuveiro que sairia pelo ralo enquanto esta não atingisse a temperatura desejável, começam a ser uma realidade para muitas pessoas que partilham a sua experiência. Essa água pode ser aproveitada para lavar a casa, regar plantas ou como substituição das descargas do autoclismo. Outros há, aqueles que têm autoclismos antigos, que põem uma garrafa de plástico de litro e meio cortada ao meio para na descarga se poupar a água que fica dentro da garrafa.

Mas parece-me que as campanhas governamentais ainda não conseguiram ‘tocar’ na maioria dos citadinos que não vivem este drama. O comum dos mortais não sabe a razão por que há de poupar água, na medida em que não percebe como esse seu gesto poderá ajudar aqueles que o vivem.

A verdade é que se a chuva persistir em não aparecer seremos todos obrigados a mudar os nosso comportamentos. Quem faz a barba ou lava os dentes na maioria das vezes deixa a torneira aberta. São muitos litros que se evaporam e que fazem falta noutros lugares. A notícia de que a Câmara de Viseu virá aos arredores de Lisboa buscar a água que lhe falta é um bom indicador de como todos teremos de poupar. Se hoje vai para outras zonas, o que acontecerá se começar a faltar na capital ou na Invicta?

É um drama tão grande mas que parece invisível aos olhos da maioria. Caberá pois aos ‘marketeiros’ do Executivo idealizarem uma campanha forte de sensibilização das populações. Quando passei largas temporadas em Angola e Moçambique, fazia-me confusão tomar banho no hotel e deixar a água a correr enquanto me ensaboava, já que em suas casas os meus amigos sabia que só tinham água quando o camião passava nas redondezas e a compravam. Não acredito que cheguemos a esse ponto, mas que a seca vai mudar a nossa forma de viver, não tenho dúvidas. É claro que nós só vemos, muitas vezes, os problemas quando eles nos entram pelos olhos adentro. Temos muita dificuldade em antecipar problemas. Se os habitantes de Viseu, os agricultores, em geral, e a indústria pecuária já sabem o que é viver com pouca ou nenhuma água, todos nós acabaremos por perceber essa realidade. A bem ou a mal. E como ninguém consegue fazer chuva por encomenda, é mesmo melhor começar a ter gestos tão simples como as novas gerações que usam o balde ou a garrafa de plástico.