Zimbabué. Grace Mugabe pode não estar entre os detidos

Os militares intervieram militarmente depois de Robert Mugabe ter demitido o vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, para abrir caminho para Grace Mugabe o suceder

Robert Mugabe e a sua família continuam sob detenção 12h depois dos militares terem tomado o controlo da televisão nacional e do país para "avançarem contra criminosos" que se encontram à volta do chefe de Estado. Existem relatos de que Grace Mugabe, mulher de Robert Mugabe e possível sucessora, não se encontra no país, mas sim na Namíbia numa viagem de negócios.

Apesar das declarações do chefe do Estado Maior, Constantino Chiwenga, na passada segunda-feira, ainda não é claro quem lidera as forças armadas que se dirigiram para a capital do Zimbabué, Harare. 

Durante a madrugada, alguns militares bloquearam os acessos aos edifícios principais do governo e aproderaram-se da televisão. Parlamento, governo e tribunais foram ocupados pelos militares. Segundo a BBC, ocorroreram três explosões no decurso do avanço dos militares. 

Entre os detidos encontram-se altos funcionários associados a Grace Mugabe e à sua fação G40. Aquando da detenção não houve qualquer sinal de resistência. A ala juvenil do partido do presidente Mugabe, Zanu-PF, condenou a ação militar, depois de na semana passada ter proferido declarações desafiadoras aos militares. A maioria da juventude do partido apoia Grace Mugabe na corrida à sucessão. 

Na sua breve comunicação, transmitida pela televisão nacional sob controlo dos militares, o Major-General Sibusiso Moyo afirmou: "Queremos garantir à nação que Sua Excelência, o presidente da República do Zimbabué e Comandante Supremo das Forças Armadas, Robert Mugabe e a sua família estão a são e salvo e que a sua segurança está garantida. Temos apenas como alvos os criminosos que o rodeiam e estão a cometer crimes que estão a causar sofrimento económico e social ao país. Queremos entregá-los à Justiça".

Apesar da intervenção dos militares na política, o Major-General recusou classificar as suas ações como um golpe de Estado, acrescentando que "logo que [as forças armadas] terminem a situação, retornaram à normalidade". Moyo pediu ainda às forças de segurança nacionais "para cooperarem pelo bem do país" e que "qualquer provocação será recebebida com resposta apropriada". 

"Embora um pouco assustador, acho que isto é bom para nós. Já faz muito tempo, passamos por muitas dificuldades", disse um vendedor de frutas ambulante ao jornal britânico "The Guardian". Opinião partilhada por um funcionário público que preferiu o anonimanto: "As pessoas estão entusiasmadas porque estão prontas para a mudança. Eu não acho que as coisas se tornem violentas porque estão a fazer isto para as pessoas". 

O movimento das forças armadas parece ter como motivo a resolução de um conflito em torno da sucessão do atual presidente Mugabe, com 93 anos de idade, entre o seu vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, e a sua mulher, Grace Mugabe. O atual presidente lidera o país desde 1980, como primeiro-ministro, e, depois, em 1987, como presidente com poderes executivos. 

Segundo analistas, os acontecimentos dos últimos dias podem sinalizar o início do abandono do Poder por parte do líder mais velho do mundo nos próximos dias, semanas ou, no máximo, meses. 

Na semana passada, Robert Mugabe demitiu o vice-presidente para abrir caminho para a sua mulher o suceder. Ainda assim, Mnangagwa, que se encontrava então na África do Sul, regressou ao país para se opor à demissão. O vice-presidente conta com apoios significativos entre as forças armadas nacionais, contrastando com Grace Mubage, profundamente impopular e com poucos aliados internos. 

Em resposta, na segunda-feira, o chefe das Forças Armadas ameaçou publicamente intervir politicamente para terminar com as purgas contra uma parte do próprio executivo. "Devemos lembrar aqueles que estão por detrás dos atuais traidores que, quando se trata de proteger a revolução, os militares não hesitarão em intervir", leu Chiwenga aos jornalistas numa conferência de imprensa. 

A oposição fragmentada ainda não condenou a intervenção dos militares. Nelson Chamisa, líder do Movimento pela Mudança Democrática, apelou à "paz, constitucionalismo, democratização, ao Estado de Direito e à santidade de todas as vidas humanas".