Carlos Rosado de Carvalho: “Tentativa de moralização da vida económica de Angola”

A demissão de Isabel dos Santos e o afastamento de Tchizé dos Santos e Coréon Dú da gestão da TPA2 é sinal de que João Lourenço quer afastar a família Dos Santos do poder? Não diria que isto é alguma coisa contra a família, mas há claramente conflitos de interesses. A forma como os negócios…

A demissão de Isabel dos Santos e o afastamento de Tchizé dos Santos e Coréon Dú da gestão da TPA2 é sinal de que João Lourenço quer afastar a família Dos Santos do poder?

Não diria que isto é alguma coisa contra a família, mas há claramente conflitos de interesses. A forma como os negócios foram obtidos não terá sido a mais transparente e, por isso, entendo isto não como uma perseguição à família Dos Santos, mas como uma tentativa de moralização da vida económica de Angola.

Já se adivinhava?

A Sonangol é a maior empresa do país e estava numa instabilidade tremenda, muitos rumores sobre a saída, e uma empresa como a Sonangol não pode estar nessa instabilidade, tem de ter um presidente do conselho de administração que seja forte, que tenha autoridade, e parece-me que Isabel dos Santos já não tinha autoridade na Sonangol. João Lourenço tinha duas opções: ou manifestava confiança em Isabel dos Santos ou tinha de a demitir. O cenário da demissão era o mais provável.

Será esta também uma espécie de queda do mito de Isabel dos Santos como empresária?

Não consigo fazer uma avaliação sobre o que ela fez na Sonangol, não temos relatórios, não sabemos como encontrou a empresa e como a vai deixar. O dossiê da Sonangol é muito político, ela esteve muito pouco tempo à frente da empresa. Agora, o que acontece é que Isabel dos Santos não terá a proteção que teve até agora, uma espécie de escudo invisível à volta dela que a protegia, o que não quer dizer necessariamente que fosse o pai a protegê-la, mas era a auréola que tinha por ser filha de quem era. Desse ponto de vista há claramente aqui um sinal de que Isabel dos Santos não é intocável.