Coreia do Norte. Lombrigas dificultam recuperação de soldado desertor

O soldado foi alvejado quatro vezes enquanto tentava passar a zona desmilitarizada do paralelo 38

Um soldado norte-coreano que desertou esta semana e que foi ferido a tiro pelos seus agora ex-companheiros está a recuperar mais lentamente num hospital na Coreia do Sul por causa dos enormes parasitas que tinha nos intestinos, lombrigas. 

O soldado tinha um "número avassalador de lombrigas" no corpo, contaminando as suas feridas e, consequentemente, piorando o seu estado de saúde. Entretanto, os médicos anunciaram que o estado de saúde do soldado norte-coreano se encontra estável, apesar dos médicos estarem a prestar "muita atenção para evitar possíveis complicações". 

"Nunca vi nada como isto nos meus 20 anos como médico", disse Lee Cook-jong, médico sul-coreano, aos jornalistas. Segundo o médico, a maior lombriga retirada do corpo do paciente tinha cerca de 27cm de comprimento. 

Não é comum soldados norte-coreanos tentarem desertar através da zona desmilitarizada do paralelo 38, a fronteira entre a Coreia do Norte e a do Sul desde 1953 e uma das mais vigiadas do mundo, mas foi isso que aconteceu esta quarta-feira. 

Três soldados sul-coreanos conseguiram alcançar o soldado ferido para o trazerem para o lado sul-coreano, sendo, depois, transferido de helicóptero para um hospital, onde foi submetido a duas cirurgias de emergência. O soldado foi baleado quatro vezes, segundo os médicos que o trataram.

Em consequência do isolamento da Coreia do Norte, independentemente de ser opção própria ou imposta pela comunidade internacional, o país é muito pobre, dificultando o desenvolvimento de um sistema de saúde que consiga dar resposta às necessidades da sua população. "A Coreia do Norte é um país muito pobre e como qualquer país pobre tem sérios problemas de saúde", disse Andrei Lankov, professor na Universidade de Seul, à BBC. 

Ainda assim, o professor refere que se o país for comparado com outros com PIB per capita similares, como o Bangladesh ou países africanos, pode-se concluir que a população norte-coreana é muito mais saudável do que o esperado. A esperança média de vida na Coreia do Norte é acima da média, tendo em conta a pobreza económica. "A Coreia do Norte não tem os recursos necessários para um sistema de saúde moderno", afirmou. "Os seus médicos são relativamente mal treinados e têm de trabalhar com equipamentos primitivos", complementou. No entanto, o país têm médicos suficientes para em proporção com a população. 

Na Coreia do Norte, as lombrigas são um parasita generalizado, em consequência da alimentação da população, onde se inclui vegetais não cozinhados produzidos com adubos de fezes. Contudo, este problema não se limita à Coreia do Norte, sendo que em muitos outros países do mundo se assiste ao mesmo fenómeno, principalmente nos países em desenvolvimento. 

As lombrigas também eram muito comuns na Coreia do Sul até à década de 1980, quando medidas de saúde foram impostas para erradicar o parasita. 

Segundo Lankov, o regime norte-coreano "não admite a existência deste fenómeno por recear o detrimento da imagem do país", fenómeno que é "discutido há anos", apesar de nada se fazer.