Rebentar com os tímpanos para roubar à vontade

Se a PSP diz que não há problemas à noite é porque não percebe nada do que se passa

Há três semanas, num jantar praticamente familiar, Pedro, de 20 e muitos anos, contava-me a sua odisseia no Largo de S. Paulo, Cais do Sodré, em Lisboa. Por norma, é ali que se encontra com os amigos e é aí que costuma assistir a cenas dignas de um filme de faroeste. Quase todas as noites, ao fim de semana, os vendedores de haxixe e outras iguarias falsas intimidam quem passa ou está no local. Por vezes, agridem os vendedores ambulantes de cerveja, sempre que estes se recusam oferecê-las ou insultam e esmurram quem não gosta de ser abordado sobre droga. A Polícia sabe, mas nada faz, pois, segundo dizem aos jovens, estão fartos de levar os agressores para a esquadra e só têm problemas com isso, atendendo a que a Justiça, regra geral, os solta. Chegam a ser grupos de mais de 15 elementos e, por vezes, fogem ao mesmo tempo quando se sentem ameaçados pela presença de um carro patrulha com muitos polícias.

Depois de uma longa conversa, Pedro não ficou muito convencido sobre as minhas explicações e não voltámos a falar. Entretanto, aconteceram os episódios do Urban Beach e a mãe de Pedro ligou-me indignada. Lá lhe dei a minha opinião, dizendo que há um problema gravíssimo de ordem pública à noite, já que há poucos polícias nas imediações da animação noturna. No domingo falámos outra vez e ela estava bastante preocupada, pois o outro filho tinha sido agredido barbaramente no Cais Sodré, às quatro da manhã, junto ao quiosque vermelho, Mercado da Ribeira.  José e outro amigo, ambos na casa dos vinte e poucos, tinham sido confrontados por um grupo de delinquentes que lhes pedira um cigarro e ato contínuo desferiram uma forte palmada nos ouvidos dos dois, rompendo-lhes os tímpanos, o que os deixou desorientados e perdidos, tendo sido roubados e ficado sem a carteira, relógio e telemóveis. Depois de caírem no chão levaram pontapés em barda, até que os delinquentes se fartaram. Quando a Polícia chegou ao local, depois de ter sido chamada, disse-lhes que aquele tipo de crime é agora muito comum. Os agressores sabem como deixar as vítimas indefesas… Enquanto esperavam pela ambulância ainda viram os polícias afastarem-se, mas perante os pedidos dos jovens agredidos lá lhes fizeram companhia até à chegada do 112. Os agressores continuavam nas imediações…

Quem diz que não há problemas à noite é porque não percebe nada do que se passa, que deve ser o caso do PSP quando afirma que tudo está bem.

Mas a imagem que se começa a instalar, a da impunidade, leva ao ponto de cidadãos agredirem agentes policiais e nada lhes acontecer. É essa a mensagem que a Justiça dá quando polícias são agredidos e os agressores são soltos, como foi o caso do agente que estava em Santa Catarina, em Lisboa. O vídeo também se tornou viral, mas a Justiça entendeu que tudo não passou de uma indisposição do agressor. No meio do barulho criado, há quem defenda que a Polícia deve fazer segurança no interior das discotecas! Mas isso faz algum sentido? Seria o mesmo que colocar fanáticos religiosos muçulmanos em igrejas católicas. A Polícia deve é estar à entrada e nas imediações das discotecas. No interior, a segurança deve ser fiscalizada e as imagens recolhidas têm de ser imediatamente entregues às autoridades judiciais.

P. S. O caso da morte da brasileira baleada na Encarnação, Lisboa, tem de ser investigado até às últimas consequências. Mas, já agora, pergunto: os agentes que fizeram os disparos têm treinos adequados para intervirem em situações idênticas, de perigo da sua integridade física? Ou as poupanças de outros anos mantêm-se?