EMA. Não foi uma moeda a escolher Amesterdão, foram papéis numa taça

Conhecido o desfecho da corrida à Agência Europeia do Medicamento, governo enalteceu candidatura portuguesa. Marcelo revelou que sempre achou as hipóteses nacionais “muito limitadas”

Chegaram a ser mais de duas dezenas de cães a um osso e no final ganhou Amesterdão, que 24 horas antes da eleição no Conselho de Assuntos Gerais da UE não estava entre os favoritos apontados pela imprensa: Milão e Bratislava. Milão esteve quase a ganhar, quando um empate na terceira ronda de votações levou os representantes dos 27 Estados-membros a decidirem-se pelo sorteio. A imprensa estrangeira chegou a falar de uma moeda deitada ao ar. Força de expressão ou foi o que aconteceu literalmente? O i procurou esclarecimentos junto do Conselho Europeu e fonte europeia negou ao i que tal tenha acontecido. “Não foi uma moeda. Os nomes foram postos numa taça. O ministro Maasikas (Matti Maasikas, ministro dos Assuntos Europeus da Estónia) sorteou.”

Decidido assim o futuro da Agência Europeia do Medicamento após o Brexit, o certo é que, em Portugal, as expetativas esmoreceram logo à primeira volta da eleição, quando o Porto foi eliminado da competição europeia com dez votos, o que atribui à candidatura o sétimo lugar no escrutínio.

António Costa, que pela manhã tinha usado o Twitter para fazer um último apelo ao voto – “O Porto oferece à EMA a melhor solução para a sua relocalização. A União Europeia aproveita esta oportunidade? Espero que sim. #EMAPorto” –, reagiu na mesma rede social, parabenizando Rui Moreira e o Porto pela candidatura. “O resultado confirma o #Porto como uma grande cidade europeia e o seu extraordinário potencial. Continuemos a trabalhar.”

Recorde-se que, no verão, a candidatura portuguesa sofreu uma reviravolta política: depois de o parlamento ter votado em maio a candidatura de Lisboa e de até já estar online o site da campanha, o governo recuou e acabou por optar pela candidatura no Porto – isto na senda das autárquicas, em que o dossiê era disputado por Rui Moreira e Manuel Pizarro, candidato pelo PS.

Marcelo Rebelo de Sousa alinhou no elogio à candidatura, mas revelou ter achado sempre que as hipóteses eram muito limitadas, mas tanto do Porto como de Lisboa. “Acho que havia um equilíbrio no quadro europeu em relação às várias agências que tornavam muitíssimo difícil, à partida, quer para o Porto quer para Lisboa”, disse Marcelo, considerando que as desistências de Malta, Croácia e Irlanda vieram limitar ainda mais as hipóteses de Portugal chegar à segunda fase de votações, uma vez que reduziram a “dispersão de votos”.

Para o ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus e embaixador Francisco Seixas da Costa, a leitura é menos linear. “Quando Portugal trocou Lisboa pelo Porto, como cidade candidata à Agência Europeia do Medicamento, percebeu-se logo que era uma aposta perdida. O resto foi mero wishful thinking, honroso, mas só isso. E, diga-se, Lisboa tinha hipóteses de ganhar. Foi pena”, comentou nas redes sociais.

Portugal apresentou formalmente a candidatura do Porto a 31 de julho. De acordo com a informação disponibilizada no portal da contratação pública, um estudo encomendado à Deloitte sobre as vantagens da relocalização para o país custou 19 800 euros mais IVA. Já toda a campanha de comunicação, que incluiu o site remodelado no verão, totalizou 74 800 euros mais IVA. Estimava-se que a vinda da EMA para Portugal pudesse criar mais de 5 mil postos de trabalho diretos e um acréscimo de 165 milhões de euros em receitas fiscais.

A sorte calhou literalmente a Amesterdão, decisão que foi também do agrado da agência, que durante o processo mostrou preocupação com o facto de os funcionários estarem reticentes em mudar-se para algumas das cidades interessadas numa agência que emprega 900 pessoas e tem um orçamento anual de 300 milhões de euros, além dos visitantes que atrai e da relação com a indústria farmacêutica.

A EMA tem agora 16 meses para preparar a mudança de Inglaterra para a Holanda, o que prevê que aconteça o mais tardar até 30 de março de 2019. “Amesterdão preenche muitos dos nossos requisitos. Oferece uma excelente conectividade e um edifício que pode ser adaptado de acordo com as nossas necessidades”, disse Guido Rasi, diretor executivo da agência. Amesterdão ofereceu- -se para construir um edifício de raiz para a EMA, que alugará à agência ao preço de mercado no bairro financeiro de Zuidas.