1. Politicamente incorreto. A coluna de hoje vai ser politicamente incorreta. Não tenho uma convicção absoluta relativamente aos pontos que vou argumentar, mas sinto uma necessidade premente de os fazer, de ir contra a corrente. A autocensura do discurso é asfixiante. A prevalência da forma e do modo sobre a intenção e conteúdo do que se faz e diz é castrante. A percepção é tudo. Organizações dominadas pelo politicamente correto não têm cor nem espaço para o humor. Vivem num catenaccio emocional permanente. Eu sei. Trabalhei dois anos na academia no Reino Unido.
2. Panteão. O jantar do Web Summit no Panteão Nacional causou uma grande comoção patriótica. Não em mim! Um jantar numa sala do Panteão não significa necessariamente desrespeito pelos mortos (que até nem lá estão). Tal como uma missa no Panteão, (como bem notou Rui Tavares), não significa desrespeito pela memória das personalidades anticlericais aí sepultadas. Nos Estados Unidos são frequentes piqueniques nos cemitérios- precisamente porque são locais aprazíveis. Fala-se na mercantilização da cultura. Mas uso sugerir que o problema está, talvez, em que esta mercantilização não foi levada às últimas consequências. Custasse o aluguer do espaço 30.000 euros em vez dos pífios 3.000 e muitos problemas seriam evitados. Certamente utilizações triviais seriam desincentivadas.
3. Assédio. Este é um terreno minado no qual toda a prudência é pouca. Sou pai e educador por profissão. Abomino a utilização de posições de força ou autoridade para avanços sexuais sobre aqueles que, por motivos de dependência, imaturidade ou outros, são mais frágeis. O assédio sexual deve ser combatido com rigor e sem tréguas e os perpetradores devidamente castigados. Dito isto, há algo que me perturba na catadupa quase diárias de casos de assédio (alguns velhos de trinta anos) de que a imprensa se faz voz. Aprendi há muitos anos, já não sei com quem, que a forma é irmã gémea da liberdade. Quer isto dizer que por mais hediondo que seja o crime existe um processo judicial próprio que é necessário salvaguardar. As denúncias na praça pública violam esse processo; são verdadeiros linchamentos. O acusado –mesmo que injustamente – já ficou manchado no momento em que o dedo lhe é apontado. E existe uma imprensa ávida de escândalos de relatar qualquer caso independentemente da verosimilhança ou gravidade bastando que envolva um famoso. Não me parece justiça mas antes faroeste.
