Desta vez não teve piada, Louis C.K.

Acusado de se masturbar à frente de colegas, comediante confessou o pecado. HBO cortou relações

Quando o agente da superestrela Grace Cullen (Rose Byrne) liga a Glenn Topher (Louis C.K.) para o avisar de que a atriz está a caminho sem marcação prévia, Ralph (Charlie Day), a extensão em ator do argumentista, simula estar a masturbar-se em excitação adolescente no sofá até atingir um ruidoso orgasmo, antes de abandonar a sala. 

Auto crítica ou redenção? Quando a cena foi vista pela primeira vez no Festival de Toronto, os escândalos de Harvey Weinstein e Kevin Spacey ainda não tinham estalado mas o primeiro visionamento gerou debate. E a antestreia oficial em Nova Iorque acabou por ser cancelada horas antes, quando o The New York Times prometeu revelações sobre a conduta privada de Louis C.K.

Dana Min Goodman, Abby Schachner, Julia Wolov, Rebecca Corry e uma outra mulher sob anonimato afirmaram ao jornal que C.K. se masturbou em frente delas, pediu para fazê-lo ou fê-lo ao telefone. Isto no zénite da carreira, quando esgotou por oito noites o Madison Square Garden de Nova Iorque e saiu vencedor dos Emmy. O pecado foi confessado. 

“Essas histórias são verdadeiras. Na altura, disse para mim mesmo que era ok porque nunca mostrei o meu pénis a uma mulher sem perguntar primeiro, algo que também é verdade. Mas o que aprendi mais tarde na minha vida, demasiado tarde, foi que quando nós temos poder sobre outra pessoa, pedir para elas te verem a masturbar não é uma questão. É um dilema. Eu tinha poder sobre essas mulheres, elas admiravam-me. E eu exerci esse poder de forma irresponsável”.

Em comunicado, C.K. não fugiu nem se escondeu. “Não há nada do que aconteceu que me consiga perdoar. Tenho de me reconciliar com aquilo que sou. O que não é nada comparado com o desafio que deixei. Gostava de ter sido capaz de ter correspondido à admiração delas por mim, tendo sido um bom exemplo para elas e dando alguns conselhos enquanto comediante”. A tal atriz que o procura no gabinete sem pedir licença no filme é uma metáfora das mulheres que se empenharam para poder trabalhar com um dos mais venerados comediantes americanos mas a piada empalideceu. “Passei a minha longa e feliz carreira a dizer tudo aquilo que queria. Agora vou dar um passo atrás e vou passar a algum tempo a ouvir”, sintetizou C.K. em nota pública. 

As reações foram imediatas. A HBO cortou relações de várias formas. A participação no programa “Night of Too Many Stars: America Unites for Autism Programs” foi cancelada e todas as antigas séries foram retiradas das plataformas de streaming.

As acusações levaram as atrizes Chloe Grace Moretz e Charlie Day a cancelar a promoção ao filme. “I Love You, Daddy” fora ainda submetido aos Óscares e aos Globos de Ouro mas o cancelamento da exibição do filme nos EUA invalidou a candidatura. 

Por cá, o filme passou pela primeira vez no Lisbon & Sintra Film Festival e estreia em sala na quinta-feira, dia 30.