Implodir o Governo?

A probabilidade de maioria absoluta é real. Por isso, se Costa forçar eleições pode ficar com outra margem de manobra e um poder reforçado

A discussão deste OGE 2018 já quase passou à História, e a perceção generalizada é que o Governo cedeu em toda a linha à sua base eleitoral esquerdista.

Claramente, quer PCP quer o Bloco já estão ‘noutra’, dando as conquistas por adquiridas (e não foram poucas).

O PCP retomou a sua luta sobre o salário mínimo, exigindo os 600 euros mensais, perante a imediata oposição de António Saraiva – que, em clara jogada de antecipação e preparando o confronto com Governo, já começou a dizer que qualquer mexida nas leis laborais é assunto tabu para os empresários.

Por sua vez, o Bloco recomeça a sua luta sobre a renegociação da dívida, comparando custos de direitos reivindicados com os juros da dívida, antecipando eventual subida destes (admitida recentemente por Mário Centeno).

Onde quero chegar? Simples! Depois de um Verão aziago para o Governo, e em particular para António Costa, este OGE 2018 veio mostrar que o primeiro-ministro perdeu a autoridade – como muito bem notou Marques Mendes na sua conversa semanal na SIC. É indiscutível que houve um abalo na imagem de Costa. E agora, ou ‘tira um coelho da cartola’ ou pode iniciar uma trajetória descendente.

O seu charme pessoal já não será suficiente. É certo que ganhou as autárquicas (apesar da ‘quase derrota’ em Lisboa, com Medina a perder a maioria absoluta, e da vitória esmagadora de Rui Moreira no Porto). Mas se Costa ganhou é porque, por enquanto, as pessoas ainda se lembram dos aumentos salariais e da teoria do fim da austeridade. Assim, por que não fazer implodir o Governo, para colocar em sentido essas esquerdas que o atrofiam objetivamente?

A probabilidade de maioria absoluta é hoje real – e Costa poderia, de qualquer modo, incluir o Bloco num novo Governo para meter Catarina na algibeira. Mas ficaria com outra margem de manobra e um poder reforçado.

Seria uma jogada de risco – mas que lhe poderia evitar dissabores futuros, até porque estes tempos de bonomia vindos do PSD não irão continuar. Rio ou Santana virão desejosos de fazer oposição eficaz. Sobre o PCP, já vimos que passou a combater o Governo e vai continuar a fazê-lo. Por cada euro obtido, outro se reivindicará, ameaçando com a rua. Também Passos Coelho arrostou com greves e ganhou eleições. Qual o problema?

Refletir sobre o PSD é tentar adivinhar quem vai ganhar. Já escrevi que será Santana, porque entendo que, sendo mais beligerante, faz os militantes sonhar com a possibilidade de chegar ao Governo. Rui Rio tem como imagem externa ambicionar ser segundo de Costa num Bloco Central, e isso vai fazer toda a diferença.

Para os militantes de um partido de poder, ou este ambiciona mesmo o  poder ou deixa de fazer sentido. Vejamos como pensarão os militantes numas eleições que já se deviam ter realizado, dado que ninguém ouve Passos Coelho por muito que diga ou faça.

Esta história do Conselho Superior da Defesa europeia tem muito que se lhe diga. Há 23 países que aprovaram um Fundo de Despesas e parece que Portugal anda ‘a jogar por fora’, com tibiezas argumentativas resultantes de informações necessárias ao Parlamento.

Isto, obviamente, vai ter custos para um Portugal que precisa da Europa, também neste capítulo. Se dúvidas houvesse, basta atentar que das conclusões da reunião de junho 2017 se refere inequivocamente como objetivos:

1. Combater a radicalização em linha;

2. Prevenir e combater o extremismo violento;

3. Combater o financiamento do terrorismo;

4. Melhorar a partilha de informações e a interoperacionalidade das bases de dados.

Como podemos estar fora? Fiados que, sendo a Europa um paraíso, nada de mal nos pode ocorrer? Temos até 11 de Dezembro para aderir. Vai ser até ao último minuto? Brincamos?

 

P.S. 1 – Li que Paulo Macedo deixou aprovados cinco milhões de euros no IPO para ampliações necessárias e que ainda não se iniciaram; embora possam existir entraves legais até decorrentes da mudança de Governo, será que Centeno poderia desbloquear estas verbas?

P.S. 2 – O Porto perdeu a Sede da Agência Europeia do Medicamento. Até aqui, tudo normal, até porque a candidatura começou por Lisboa, e as guerrinhas regionais atiraram-na para o Porto, enfraquecendo objetivamente a nossa posição, por muito boa que fosse a candidatura. Mas esta ideia peregrina de transferir o Infarmed para o Porto à laia de rebuçado para as crianças não amuarem não lembrava a ninguém! Resultado? Amuaram os empregados do Infarmed (só 20 aceitam?) e até parece ser ilegal segundo a Lei Geral do Trabalho. Único comentário: continua o desnorte governamental!