Perfil. Quem era o homem que via Cavaco Silva como ‘ditador’

O líder eterno do maior grupo empresarial luso.

Vê em Cavaco Silva um “ditador” e na ideia de bloco central uma “ditadura a dois”; critica os políticos que nunca perderam o sono por não terem de saber como pagar salários e, no que toca a eleições, aponta o dedo ao “sistema em que o povo vota pelas festas, frigoríficos e passeios”.

Quanto a remunerações, não tem dúvidas: “Os salários são baixos. O pessoal do meio é que ganha demais. Têm de ser aumentados o último piso e o rés-do-chão.” Belmiro de Azevedo é uma personagem incontornável e incómoda do panorama económico, social e político português, sendo provavelmente o mais conhecido dos mais ricos do país. 

Nasceu em 1938, em Tuias, Marco de Canaveses, e é o mais velho dos oito filhos em que resultou a união de Manuel de Azevedo, carpinteiro e agricultor, e Adelina Mendes, costureira.

Com facilidade de aprendizagem e boas notas, convenceu os pais a prosseguir os estudos: em 1964 licenciou-se em Engenharia Química-industrial pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Pouco antes de terminar o curso, com 24 anos, já trabalhava na Efanor, entrando para a Sonae – Sociedade Nacional de Estratificados em 1965. 

A evolução do seu percurso profissional levou-o a procurar uma maior formação ao nível da gestão de empresas, embarcando por isso numa série de cursos nos Estados Unidos. Foi já durante a revolução de Abril que terá tomado o controlo da Sonae, tornando-a na Holding Sonae Investimentos e lançando a empresa em bolsa, ao mesmo tempo que assegurava uma participação maioritária.

Belmiro de Azevedo é casado com Maria Margarida Carvalhais Teixeira de Azevedo, farmacêutica, com quem teve três filhos: Nuno, Paulo e Cláudia, dos quais Paulo Azevedo foi designado como seu sucessor.

Com uma fortuna avaliada em cerca de 1,7 mil milhões de euros, a “família Sonae” abriu o primeiro Continente em 1985, em Matosinhos, e em 1988 lançou uma empresa para as tecnologias da informação, a que se seguiu a Sonae Imobiliária no ano seguinte e o jornal “Público” já em 1990. Foram os primeiros passos de um percurso que permite à Sonae apresentar-se como “o maior grupo empresarial e o maior empregador privado português”. 

Mas o percurso também teve derrotas: “Provavelmente, nós somos, como empresa, o maior perdedor nacional, perdemos quase todas as grandes aventuras, fomos sacudidos e não foi elegantemente”, chegou a dizer Belmiro de Azevedo. 

A OPA sobre a PT foi uma das suas derrotas e, vendo à distância, talvez tenha sido também uma derrota do país, culpa dos laços íntimos que durante anos uniram PT, banca e partidos de governo – um triunvirato que, além dos muitos milhões trocados entre gestores e accionistas, resultou sobretudo no que hoje se vê: a PT morreu e a Sonae continua de pé. 

Filipe Paiva Cardoso

Perfil originalmente publicado a 16/08/2015